O respeito pela interpretação

maio 27, 2016

Não há tempo, nas estradas dos palcos da vida, que assegure a qualquer ator, o direito de desdenhar de quaisquer personagens. Seja ele protagonista, ou um figurante com fala, o mínimo que a arte pede é uma interpretação honesta, ainda que lhe falte talento para isso. Entrar em cena, travestido de uma caricatura de interpretação, fazendo caras e bocas, e repetindo velhos trejeitos, chega a ser um afronte aos Deuses do Teatro.

Quando um ator recebe a missão de dar vida a uma personagem, cabe a ele transformar palavras escritas pelo dramaturgo, em ações que justifique a sua história e convença o público de seus conflitos. A arte do Teatro, é a da interpretação, não é a da caricatura, muito menos a da imitação; é tornar uma vida imaginária, em uma vida real, verossímil. Teatro não é, nunca foi e jamais será a arte do faz de conta.

O problema é que, o quê se vê, principalmente nas telenovelas, são alguns atores usando de caricaturas, imitações, do faz de conta, deixando a personagem inverossímil e sem conseguir conquistar empatia do público, pois não é possível se enxergar ali, uma interpretação que faça daquela personagem uma pessoa normal. Só técnica não sustenta uma interpretação, até porque, toda personagem tem uma alma a ser mostrada.

É certo que sempre vão dizer que em televisão é tudo muito rápido, principalmente em telenovelas, que não há espaço para criar, essas coisas todas que já estamos acostumados a ouvir. Mas, se há espaço para colocar em cena uma caricatura da personagem, porque não há espaço para interpretá-la? Entrar em cena no piloto automático e fazer o mais do menos, como se fosse um, cumprir tabela, acaba sendo um desrespeito a arte.

O bonito de se ver em cena, é a troca de grandes interpretações, quando os atores se dispõem a dar vida às suas personagens com as verdades que elas merecem. Quando o público não vê a dedicação do ator à sua personagem, é quase certo que aquele trabalho está fadado ao fracasso. Os atores que apoiam suas interpretações em caricaturas e ainda acham que fazem grande trabalho, de duas, uma: Ou se acham gênios, ou nunca souberam interpretar.

Ninguém precisa ser um grande ator, mesmo porque, isso é missão para poucos, mas, o mínimo que um ator deve fazer em cena, ainda que lhe falte talento para tanto, é ter respeito pela interpretação. O ator que se mostre em evolução, buscando elementos para uma boa interpretação, sempre será bem mais respeitado, do que aquele ator, que se acha um mestre na arte da interpretação, mas que só cria personagens caricatos.

Por isso, quem optar pelo Teatro, tem de ter em mente que viverá uma vida de estudos, principalmente da alma humana, pois, talvez, a sua próxima personagem possa exigir de você, um pedaço de cada pessoa que você cruzou pela sua vida e você terá que estar preparado para juntar tudo isso na sua interpretação, para fazer daquela personagem, alguém que valha conhecer e não, uma caricatura de gente.


Respeite o público, ele merece

junho 25, 2012

Todo mundo sabe que o artista gosta de transgredir, provocar, se arriscar, causar impacto, mas nunca foi de bom tom, mostrar certas situações em cena, pois deve se pensar no público e naquilo que pode constranger a platéia, não deixando que esta seja pega de surpresas, com cenas que possam lhe agredir, principalmente quando não é devidamente avisada.

Até entendo as experiências e as experimentações que são testadas em um festival de cenas, mas o ator, grupo e diretor, precisam ter a consciência que um festival desse tipo, leva um público diferente, não acostumado com o teatro e que vai assistir as cenas, muito mais para prestigiar filhos, amigos e parentes, do que qualquer outra coisa, por isso, ao apresentar o seu trabalho, o artista deve ter um cuidado redobrado.

Mesmo acostumado com a transgressão do ator em cena, fui pego de surpresa na noite de Domingo em um festival de cena, onde levei minha esposa, minhas filhas menores, minha mãe, meu sobrinho e minhas irmãs para prestigiar minha outra filha na apresentação de seu monólogo, com cenas de sexo quase explícito, de um mau gosto imperdoável. Como público, eu me senti agredido.

A preocupação de quem apresentou a cena, foi única e exclusivamente de aparecer, pois a tal cena não era baseada em nenhuma dramaturgia que justificasse tamanha apelação. Ainda que assim fosse, o bom senso manda um cuidado redobrado para que não venha a constranger o público com algo que ele não está esperando. E foi isso que acontece, o público foi duramente desrespeitado.

Além de demonstrarem um despreparo artístico com interpretações fracas e canastronas, o grupo, seus atores e direção, mostraram que precisam aprender muito, sobre como tratar um público. Expor as pessoas da platéia com cenas grosseiras e cafajestes quando esta não é devidamente avisada, só confirma o caráter amador e a condição irresponsável de quem faz teatro apenas para aparecer. Teatro deve ser feito com responsabilidade.

Respeitar o público deve vir antes de qualquer espetáculo, ou cena que seja, pois o artista quer mostrar o seu trabalho, a sua arte, às pessoas e essas, devem sempre ser colocadas como o objetivo maior, o público é a razão do artista e não o artista a razão do público. Agredir o público com cenas constrangedoras, serve apenas para dar a certeza que o seu trabalho é pequeno e sem valor.

Portanto, seus pseudo-artistas, quando quiserem transgredir, provocar, se arriscar, causar impacto, lembrem-se sempre, que o que faz a sua cena ou o seu espetáculo ser um sucesso é o respeito que vocês tem para com o público que lhes assiste. Respeite o público, ele merece!


A parceria entre autor e ator

abril 15, 2012

A arte de interpretar é acima de tudo uma arte de parceria, e quanto mais refinada for essa parceria, melhor para o espetáculo, para o filme, ou para a novela. O ator depende de um bom texto para demonstrar a sua arte de interpretação, enquanto o autor necessita de um bom ator para tirar do papel a sua história, mas não é sempre que isso acontece.

Algumas vezes vemos um texto primoroso, escrito com toda técnica, cheio de poesia, retratando uma história comovente, envolvente, mostrando de forma objetiva e de fácil identificação, as historias da vida, sendo vilipendiado por uma interpretação equivocada, tornando palavras em simples declamações decoradas sem o mínimo de emoção.

Por outro lado, também vemos muitos atores terem que se desdobrar em cena para dar vida a personagens mal escritos de textos ruins, sem conflitos, sem histórias. E por vezes, é o talento do ator, a única coisa que realmente vale a pena em cena, pois só ele é capaz de transformar com a sua interpretação o que por si só já é um fiasco, fazendo assim com que o publico esqueça a fragilidade do texto.

Um ator com um bom texto na mão é capaz de fazer coisas que deixarão marcas para sempre na memória de quem o assiste, e um bom texto dará ao ator as condições necessárias para que ele realize o seu belo trabalho. Ator e autor quando estão em sintonia e comungam do mesmo objetivo, (o de levar ao público uma boa história), presenteiam à todos, peças inesquecíveis, filmes inesquecíveis, novelas inesquecíveis.

É triste quando vemos boas histórias sendo destorcidas por conta de interpretações de fracos atores, isso é muito comum em novelas, que pede uma atuação firme e precisa dos atores, Mas, atores, muitas vezes, sem experiências, ou até mesmo sem talento, tornam palavras, frases e intenções pensadas pelo autor em algo sem sentido, sem vida e sem emoção. A palavra deve ser dita de forma correta e não simplesmente cuspida para fora.

Portanto, é certo que para que o público assista a uma boa peça de teatro, ou um bom filme, ou ainda uma boa novela, a parceria entre o autor e ator deve ser precisa. A arte da interpretação não tem espaço para maus autores e muito menos para maus atores. O que, com certeza, agradará o público, é podê-lo fazer ver em cena o reflexo límpido e claro de uma parceira perfeita entre o autor e o ator.


A superficialidade do ator

março 25, 2012

Quando vamos ao teatro, esperamos sempre assistir a um bom espetáculo e ser brindados por uma boa interpretação, mas nem sempre isso é possível. Ás vezes, grandes trabalhos se perdem por um único motivo: a superficialidade do ator. A falta de verdade que vimos diante dos nossos olhos, invariavelmente põe tudo a perder.

Dias e dias de ensaios parecem não serem suficientes para aqueles não levam aquilo que faz a sério, pois em cima do palco, vimos que o ator se esqueceu de levar a alma da personagem para cena. E é um festival de caras e bocas, de gestos e trejeitos, um faz de conta sem tamanho, que faz o espetáculo parecer uma brincadeira sem graça.

Talvez nem seja pela falta de conhecimento do que se esteja fazendo, mas sim por pura insegurança, o medo de se colocar desnudado diante de uma platéia é apavorante. Mas, por outro lado, pode ser que seja o mais puro exibicionismo, então se usa o palco para aparecer para amigos e parentes e a personagem nem sai do camarim.

É claro que no circuito profissional é mais difícil encontrar essa superficialidade, mas não pensem que ela não existe, atores que já se acham acima do bem e do mal, nomes conhecidos da mídia, esquecem a emoção e enchem a cena de uma superficialidade patética, que chega a agredir a arte com a brincadeira de faz de conta de que se é ator.

O ator precisa dominar a sua personagem, esse é o seu ofício. Quando não se está preparado para enfrentar as entranhas da personagem, ou não se é pscicológicamente forte para entender a psique da personagem, é melhor recuar e se aprimorar ainda mais, pois pior do que não ter talento para atuar, é tratar a cena com superficialidade.

O teatro é mágico e encantador porque faz com que as pessoas riam, sofram e se emocionem com aquilo que o ator tem para lhe contar, tratar o texto com superficialidade é destratar o público que vem lhe prestigiar. O ator não pode achar que fazendo de conta que faz, vai convencer o público que o vê.

Portanto, quem quer ser ator de verdade, ainda que seja forma amadora, precisa entender que teatro é arte da dar vida à outra vida, e ninguém vive a vida superficialmente, então, por que se haveria de vivê-la desta forma em cima de um palco? Ator; aprofunde-se no seu ofício, pois o que o público quer é poder sair do teatro satisfeito por assistir a uma grande atuação.  


A arte de ser um camaleão

março 3, 2012

A arte de interpretar uma personagem, por vezes encanta quem assiste e isso acontece quando o ator consegue fazer com que aquela personagem nos convença de que tudo ali é real e mesmo sabendo que tudo é teatro, acabamos envolvidos. Nos emocionamos, rimos, nos identificamos, nos distanciamos da situação, graças a capacidade que um ator tem, de ser um camaleão.

No palco, aquela história carregada de drama ou de comédia, ganha vida impulsionada pela interpretação do ator, que nos conta a tal história, como se fosse a sua própria, moldando seus gestos, sua fala, seu andar, sua voz, suas manias à necessidades daquela personagem. Tudo para que o teatro mostre as faces da humanidade.

Ao ator foi dada essa missão e aqueles que realmente percebem a verdadeira essência de ser qual ao camaleão, conseguem o reconhecimento e os aplausos calorosos por suas interpretações. Pois não é nada fácil sentir a dor alheia como se fosse sua, achar graça da piada que não é sua, fazer chorar por um drama que não é seu. Isso é ser ator.

Fazer de conta que sofre, que ri, que se emociona é brincar de fazer arte e não se engana aquele que vai disposto a assistir a arte camaleônica de um ator. Ator de caras e bocas, que pensa que imitando uma personagem conseguirá agradar o público, será sempre identificado como um “canastrão”. A essência de um ator é fazer de cada personagem um ser real e verdadeiro, só assim haverá convencimento.

É admirável quando encontramos pelos palcos, atores que sejam verdadeiros camaleões, que nos fazem esquecer de quem são de verdade, que nos fazem acreditar em cada palavra falada, em cada gesto feito, em cada dor, em cada lágrima derramada, em cada boa gargalhada. Não há nada melhor do que poder se deixar convencer por um desses atores.

Quem dera pudéssemos encontrar pelos caminhos, mais e mais atores que entendessem que a arte de ser um camaleão é o que faz o teatro ser encantador. O teatro não seria essa grande arte, se o ator, não se despisse das suas características humanas para dar vazão às tantas personagens distintas. Eu só tenho a reverenciar à todos camaleões que se escondem e se mostram pelos palcos do mundo.


O encontro das artes

dezembro 10, 2010

A concepção de um espetáculo não é uma coisa nada fácil, que digam os diretores teatrais, que por vezes surtam diante de tantas possibilidades. A decisão sobre: de qual ponto de vista a história será contada, o que privilegiar em cena, como não deturpar a visão do autor e até mesmo o seu próprio devaneio artístico, são algumas das angústias que assolam os diretores no momento da concepção do espetáculo.

Todo esse turbilhão de sentimentos que toma conta do diretor, é legítimo e faz parte da explosão da criação, portanto, deve ser respeitado, seja em qual fase da concepção do espetáculo ele aconteça. A concepção do espetáculo é o momento do diretor e só ele para resolver os problemas que ele criou em sua cabeça. O autor já viveu esse momento quando da criação do texto e o ator  viverá quando da criação da sua personagem, mas, quando os três trabalham na mesmo sintonia, o resultado é quase sempre espetacular.

O encontro das artes me parece ser o maior dos desafios que um diretor enfrenta quando da concepção de um espetáculo, pois encontrar o espaço igualitário para que todas elas se sobressaiam sem que uma ofusque a outra, torna o trabalho ainda mais árduo, ainda mais quando se faz necessário a inclusão de outras artes, tais como a música e a dança. Mas a perfeição na sintonia de todas as artes faz o espetáculo sair do lugar comum.

Pode parecer muito simples quando alguém vê um espetáculo sendo apresentado, o ator em cena, com o texto decorado, um palco, uma luz aqui e ali, um figurino bonitinho, um cenário para chamar a atenção, e pronto, não precisa de mais nada. Ledo engano, um espetáculo, seja ele de teatro, de dança, de música, só ganho uniformidade pelas mãos de um diretor. É ele quem vai costurar e  tornar possível a homogeneidade do espetáculo. Ele é o responsável pelo encontro das artes

É claro que muitos diretores se acham mais importantes que o texto, que o ator e se colocam acima do bem e do mal, mas todos sabemos que, principalmente o teatro, é uma arte de grupo, e quanto maior a cumplicidade entre as partes envolvidas na montagem de um espetáculo, melhor vai ser o resultado final. Ninguém é mais importante que ninguém, o texto tem a sua importância, o ator tem a sua importância e o diretor tem a sua importância.

O sucesso de um espetáculo passa pela forma em que o diretor o concebeu, mas se torna grande artisticamente, no momento em que o diretor tem a humildade de usar o seu conhecimento em prol de unificar as artes pelo bem da arte que ele dirige, fazendo deste encontro, um momento inesquecível, tanto para quem faz, quanto para quem vê.

Eu reconheço a importância dos diretores na concepção de um espetáculo e consigo enxergar assim a grandeza que é dirigir um espetáculo. Espero que os diretores não me interpretem mal e nem torçam seus narizes pelo meu ponto de vista, pois na minha opinião, um diretor é acima de tudo, o responsável pelo encontro das artes em cena.


A arte de se reinventar

outubro 8, 2010

Quantos e quantos de vocês já não se depararam com este dilema? Ainda com os olhos debruçados na primeira leitura do texto, entre as primeiras idéias sobre a nova montagem e até mesmo sem saber direito de que jeito colocar aquela história em cima de um palco, se você é ator de verdade, uma certeza se fez presente e você repetiu para sim mesmo: terei de me reinventar mais uma vez como ator.

É, meus amigos, para quem pensava que atuar era só está em cima do palco falando meia dúzia de palavras decoradas, eis mais um pequeno detalhe que faz uma tremenda diferença na vida de qualquer ator: a capacidade de se reinventar em cena. A reinvenção de uma interpretação é o diferencial que mostra a real capacidade que um ator tem para entregar sua vida a tantos e tantos papéis.

Pois está sobre um palco, dando vida a tantos personagens, é muito mais complexo do que se possa parecer. Vai muito além de ser alguém talentoso, ou de ser alguém deveras aplicado nas teorias e práticas da interpretação. Tudo isso junto e misturado com a criatividade é o que dá a capacidade para que um ator se reinvente sempre que decide dar vida a um personagem.

É assim, a vida do ator é uma eterna reinvenção e quanto maior a capacidade que o ator tem para se reinventar, mais admirado ele é. Pois não é fácil, principalmente para quem está há anos na profissão, dando vida a tantos personagens, interpretar um novo papel sem que este, de uma maneira ou de outra, lembre algo que o ator já fez em outro trabalho.

Só vale a pena levar adiante uma montagem, se o ator estiver disposto a se reinventar, tantas e tantas vezes forem necessárias. As mil facetas de um ator, seus infindáveis recursos de interpretação e sua enorme capacidade de se reinventar em cena, são como um verdadeiro colírio para o público sedento por um bom espetáculo.

Há tempos deixei para trás esta coisa de ser ator, pois além de não ter nenhum talento para o ofício, ter de me reinventar como ator a cada nova interpretação, me fez mudar de idéia e me ajudou a optar para apenas contar histórias e não mais interpretá-las. Ser ator é muito difícil, pois dar vida ao que o dramaturgo imaginou merece uma capacidade de se reinventar e isso, sempre julguei não ter.

Para mim, talvez por ser a minha real aptidão, bem mais simples do que me reinventar em cena, é me reinventar para contar sempre uma mesma história de uma forma diferente. Contribuir com um belo personagem para que o ator tenha a oportunidade de se reinventar, é o que me dá satisfação. Por isso, quando vejo a displicência de um ator diante de um papel, não entendo porque ele optou em fazer algo de tanta complexidade e que demanda tamanha dedicação.


A preparação do ator

setembro 2, 2010

Não existe nada mais desagradável, pelo menos para mim, do que assistir um espetáculo e perceber aquele ator bem canastrão em cena. Caras e bocas, trejeitos e sei lá o que, tudo para dar o tom certo ao personagem, mas nada adianta, nem mesmo o tal talento que o ator pretensiosamente acha ter, é capaz de nos convencer, pois fica nítido que faltou algo: A preparação do ator.

Não falo apenas dos ensaios necessários para a composição do personagem, da marcação de cena, da luz e da concepção geral do espetáculo. Falo da voz, da expressão facial e corporal, das emoções e de todas as técnicas de interpretação necessárias para o ofício de ator. Pois, é tudo isso que vai lapidar um precioso talento ainda em estado bruto.

Achar que decorar o texto, saber as marcações e fazer caretas em cena é o suficiente para estar sobre um palco, não leva ninguém a lugar nenhum, só o coloca na alça de mira. Teatro é a arte de iludir e não a de enganar. Aliás, engane-se aquele que pensa ser um ator agindo desta maneira. A preparação do ator é de fundamental importância para o sucesso do espetáculo. E esse tem de ser um compromisso que o ator deve ter com o público.

Não sei se é uma impressão minha, mas tenho sentido a falta de um cuidado maior na preparação do ator, parece que trabalhar o ator passou a ser algo “démodé”. Ensinam meia dúzia de teorias, obrigam a ler meia dúzia de textos e deixam para o ator que tiver talento e uma força de vontade a mais do que os outros, fazer a diferença. Só que não é todo ator que tem talento e força de vontade para tanto. E o resultado, ás vezes é desastroso.

A idéia do espetáculo como um todo tem prevalecido, pelo menos é o que percebo nas apresentações que tenho visto. Fica claro uma preocupação, ás vezes até exacerbada com o resultado do espetáculo, e até as questões de cenário e figurino ganham uma importância maior do que o trabalho de ator. Sempre o que vem em primeiro plano é o espetáculo em si. Difícil ter notícias de alguém dizer: – Estou me preparando para fazer tal papel. O usual é dizer que se está ensaiando uma peça.

É claro que não se pode generalizar, pois deve haver em algum canto, seja em um grupo amador, em escola de teatro, na obstinação de algum diretor, ou sei lá aonde, alguém mais preocupado com o ator do que com o espetáculo. Apenas acho uma pena que isso não seja o exemplo e sim a exceção. Pois de nada adianta ter um bom texto, um bom figurino, um bom cenário, uma boa concepção de espetáculo, se o ator em cena não passa de um canastrão.

Só a formação do ator com bases em exercícios e teorias não basta, para que uma interpretação seja realmente um sucesso, além de toda base necessária, há de se ter a preocupação de uma preparação específica para cada papel que se vai interpretar, pois, afinal de contas, um bom e velho diretor de ator não faz mal a ninguém.


Entre dramas e comédias

julho 8, 2010

Todo dia a mesma rotina, maquiagem, figurino, primeiro sinal, segundo sinal, nervosismo, frio na barriga, terceiro sinal, as cortinas se abrindo… Parece uma vida comum de um cidadão comum, não é? Mas, não é! O que essa rotina tem de diferente? Uma mesma história, contada todos os dias, de um jeito diferente, por um cidadão que jamais será o mesmo.

É assim, entre dramas e comédias que o ator faz da rotina de uma apresentação algo sempre inovador, mesmo que às vezes ela lhe pareça cansativa, ao abrir as cortinas e o foco o encontrar em cena, aquilo que lhe poderia ser a mesmíssima rotina de todos os dias, se dissipa entre lágrimas e gargalhadas, desaguando num rio de aplausos.

Esta é verdadeiramente a missão de um ator: pegar os fatos comuns, de uma vida comum, passados com cidadãos comuns, descritos em formas de ação por um dramaturgo, levá-los ao palco e revirá-los, demonstrá-los, interpre-tando-os sempre de uma maneira singular, ao ponto de que se alguém for assistir todos os dias, sempre achará que está assistindo um espetáculo diferente.

Ator é poder representar a vida sob a ótica de todos os olhos, é poder experimentar todas as possibilidades de sentimentos e emoções, é poder deslumbrar sobre todos os pontos de vistas possíveis e inimagináveis, é poder esgotar todas as sensações entre o riso e a comoção, transformando todos os dias, as mesmas situações que a mesma história rotineira não é capaz de mostrar.

É sobre o palco, através da arte de interpretar, que a vida deixa de ser comum e rotineira. É através da rotina das apresentações encenadas dia e noite que o ator nos permite experimentar a possibilidade de poder ver a mesma história de mil e uma possibilidades, enxergando algo que os olhos nus, de cidadão comum não são capazes de ver.

Vivendo no palco os dramas e as comédias, externando os nossos medos, os nossos anseios, desvendando nossas mentiras, desfazendo nossas verdades absolutas, violando nossos segredos, desmascarando nossas vidinhas comuns, nossa pequenez humana, nosso egocentrismo, nossa vaidade, nossa felicidade, assim é a vida do ator, sobre o palco, retratando a rotina dos mortais.

Pena que muitos, entorpecidos pelo poder de fazer da vida algo diferente a cada interpretação, acham-se semideuses e colocam tudo a perder, colocando as próprias vidas no mesmo patamar da vida comum, de um cidadão comum, que vive sempre a mesma história.


Amador sim, e daí?

julho 2, 2010

Entre dificuldades para montagens, para poder ensaiar, sem espaços para apresentações, sem qualquer apoio, sem nenhuma verba, quase sem nenhum espaço na mídia para sua divulgação, o teatro amador sempre se superar e, por vezes, e não são poucas, consegue encantar.

Não é raro ver atores e atrizes se transformando sobre um palco, transbordando arte e emoção por todos os poros. Vivendo o personagem com tamanha verdade que nem sempre enxergamos em atores ou atrizes, consagrados. E é por momentos como estes que o teatro encanta.

Ver num palco, ou num outro espaço, (pois não é sempre que o pessoal amador tem a chance de se apresentar sobre um), um ator justificando cada letra e cada sentimento contido no texto que ele interpreta e não apenas brincando de fazer teatro, revigora a condição do teatro amador, e reafirmar como o lugar ideal para o “fazer teatral”.

Pena que entre tantos que buscam o aprimoramento e levam a sério a arte de atuar, alguns ainda fazem do teatro amador um território para brincadeiras, enganações e perversões, atrapalhando e contribuindo para o desprestígio da categoria. Não é porque é amador que tem que ser desse jeito.

Essas pessoas que circulam no teatro amador apenas para fazer “tipo”, ou sei lá o quê? Deveriam aproveitar a oportunidade e, realmente, absorver todo o ensinamento que o teatro amador é capaz de dá. Pois não existe nenhuma outra arte, onde se aprenda desde a produção até a interpretação, passando por todas as fases de preparação de um espetáculo. Teatro amador é um lugar que não tem espaço para aventureiros e sim para interessados na arte de atuar.

Por isso, aqueles que se dedicam e tratam o amadorismo do teatro com todo profissionalismo, encarando os desafios de atuar com toda a responsabilidade que uma interpretação merece, só tem a ganhar. E, com certeza, para estes, as portas estarão sempre abertas e, por eles, sempre valerá à pena disponibilizar textos para suas apresentações.

Teatro é a arte de atuar e não importa se isso é feito de forma amadora ou profissional, o que importa é ver a verdade do ator no exercício do seu ofício na sua maior plenitude e poder levantar e aplaudir por sua atuação. E melhor é poder dizer: Ele é amador? E daí?