O Teatro precisa ir às escolas

fevereiro 23, 2024

Hoje, com as redes sociais, nossas crianças são inundadas por uma cultura inútil, regada á muita erotização e apologias a isto e aquilo, uma enxurrada de entretenimento inútil que não contribui em nada para o enriquecimento cultural delas, é preciso apresentar uma pouco de cultura clássica para essas crianças, para que elas redescubram o poder do lúdico, da fantasia, do sonhar, um sonhar diferente, um sonhar que enriquece a alma e não o que estimula a fama e a ganância.

E qual a melhor maneira de fazer isso? Levar às escolas, o Teatro. Ainda não inventaram no Mundo uma arte mais propícia para isso do quê o Teatro. O poder no Teatro junto a uma criança é fantástico. Quando ela descobre que pode criar histórias, criar personagens, interpretar esses personagens, ela viaja no mundo da imaginação e a brincadeira de faz de contas encontra o lúdico e a criança descobre a beleza de sonhar sonhos infantis e não o sonho de consumo de uma vida adulta.

É uma pena que seja tão difícil que os governantes entendam a importância de levar o Teatro para as escolas, o Teatro, além de entreter é capaz de oferecer à criança, cultura e sabedoria, que, por vezes, nos bancos escolares, através do currículo normal, seja muito de difícil de transmitir ou de ser assimilado pela criança. O Teatro diverte ensinando e ensina divertindo, mas são poucos os que conseguem levar Teatro às escolas e oferecer uma alternativa diferente de ensinar cultura.

Existem boas iniciativas para que se leve o Teatro para as escolas, mas são poucos os fazedores de arte, que conseguem isso, há sempre um senão dos governantes quando alguém tenta levar um projeto de Teatro para escolas, não há incentivos e, tão pouco, vontade política para isso, mas, mesmo assim, ainda aqueles que mesmo sem verbas, sem incentivos, conseguem, de uma forma ou de outra presentear às crianças com o Teatro em suas escolas. Também há algumas escolas que entenderam essa importância.

Que as pessoas que cuidam da Educação de nosso país entendam, de uma vez por todas, a importância de incluir as Artes como disciplina no currículo escolar, não essa arte que é oferecida nos currículos hoje em dia, de desenhar, pintar, usar giz de cera, fazer dobraduras, é muito pouco a oferecer com a enormidade de Artes que há, não só o Teatro, a Música, a Escultura, a Pintura, mas, se ainda não há essa consciência, que se permita, então, deixar que as crianças desfrutem da magia do Teatro de quando em quando.

Quando a criança descobre a magia do Teatro, a vida dela se transforma e essa transformação faz um mundo bem melhor, por isso, começo aqui uma campanha por mais projetos de Teatro nas Escolas e depois, nas ruas, nas praças e em todos os lugares aonde seja possível, para que a arte do Teatro inunde a vida das pessoas de sabedoria e de cultura e não de entretenimento raso e inútil, em que todos nós estamos submetidos nos dias de hoje. O Teatro tem esse poder, podem apostar!


Incentivos Culturais: Quem precisa?

setembro 16, 2022

Há uma briga política encabeçada por artistas famosos que reclamam da falta de incentivos para suas produções culturais, mas, será que eles realmente precisam de um dinheiro público, ou de uma lei de incentivos para levantarem um capital para suas produções? É óbvio que não! Artistas de renome, que possuem grande número de fãs e seguidores são capazes, através de sua imagem, angariar fundos suficientes para executar suas produções.

O que acontecia com a antiga lei de incentivos fiscais, que autorizava empresas a obter isenções de seus impostos caso apoiassem produções culturais? Elas escolhiam apoiar os artistas famosos, de renome, para colocar a imagem de suas empresas junto a esses artistas. Era errado? Claro, que não! Mas era desleal demais com os artistas que realmente precisam de incentivos para realizar os seus projetos. Não é fácil “mambambear” pelo país sem dinheiro.

O que acabou acontecendo devido a essa celeuma? Todos artistas foram colocados no mesmo baleio de gatos, como se todos artistas mamassem na mesma teta do governo, o que não é verdade, os mais famosos, podemos dizer que sim, mamavam e estão sentindo muita falta dessa mamada, pois não há nada mais confortável na vida do que você planejar a produção de seu espetáculo, tendo todos os custos pagos pelos incentivos e com a bilheteria com lucro livre para você, não é mesmo?

É preciso que se faça uma lei que realmente transfira os incentivos fiscais para os jovens artistas, para as pequenas companhias de teatro, para artistas independentes, que estão longe das mídias, para que estes artistas possam circular pelas escolas do país, levando realmente um pouco de cultura para quem não tem acesso a quase nada. Outro ponto necessário é utilizar os incentivos para preservação de museus, de teatro, do patrimônio cultural do país e não usar a lei de incentivo para cantora de funk, por exemplo, isso chega a ser até um acinte para a verdadeira cultura.

O Brasil é um país carente de acesso a cultura e a cultura de massa que nos chega, é uma cultura inútil, sem profundidade, que não acrescenta nada, e que, na verdade não deveria nem ser chamada cultura, pois é apenas entretenimento e entretenimento é diversão e diversão não deveria ser apoiada por leis de incentivos à cultura. O Brasil é sim um país rico culturalmente, mas muitos artistas não conseguem incentivos para manterem viva toda essa cultura que nos formou como Nação.

Por isso, o artista que não tem verba pública, que não tem acesso às leis de incentivos, que precisa de ajuda da comunidade, ou da escola, ou da igreja, para realizar suas produções e que quer levar cultura pelo país, não deveria encampar essa luta de artistas famosos, que escolheram estar contra o governo, ao lado de quem já roubou o país, pois eles brigam pela volta dos incentivos que lhes davam privilégios, essa luta é só deles, não é da classe artística, pois, os artistas que realmente precisam de incentivos, continuarão a não receber nada.


Os Tigres de Bengalas

julho 15, 2022

OS TIGRES DE BENGALAS

Texto Adulto de: Paulo Sacaldassy

PERSONAGENS

Juvenal

Maneco

Zeca

CENÁRIO: ENFERMARIA DE UM HOSPITAL.

AO ABRIR AS CORTINAS, VEMOS AO FUNDO DO PALCO, TRÊS CAMAS, UMA ESTÁ VAZIA E AS OUTRAS DUAS TÊM UM SENHOR EM CADA UMA. RESPIRAM COM AJUDA DE APARELHOS. UM SENHOR, USANDO UM PIJAMA, ENTRA EM CENA. CAMINHA COM A AJUDA DE UMA BENGALA E VAI ATÉ O PROSCÊNIO.

Juvenal         – Não sei o porquê minha filha não vem me visitar, nem meus netos, até aqueles meus amigos que diziam serem meus amigos, não apareceram um só dia para me visitar! Desde que me internaram aqui neste hospital, na vejo ninguém. Mas, deixa estar, quando eu sair daqui, vou acertar as contas com aqueles traidores. Eles vão ver só! (TEM UM CATETER NASAL. RESPIRA COM DIFICULDADE. CAMINHA PELO PROSCÊNIO) Eu já estou cansado de ficar aqui neste hospital, se ainda a comida fosse boa… A verdade que não vejo a hora de voltar para casa, poder passar as minhas noites dançando… Aliás, eu nem sei bem o porquê ainda estou aqui, estou me sentindo tão bem. (TENTA EXERCITAR OS BRAÇOS E TEM UM ACESSO DE TOSSE) Amanhã mesmo vou pedir para o médico me deixar ir para casa.

VAGAROSAMENTE O SENHOR SE DEITA NA CAMA VAZIA. OUVE-SE UM GRITO DE DOR. O APARELHO DE UMA DAS CAMAS COMEÇA APITAR SEM PARAR. BLACK OUT. SILÊNCIO. UMA DAS CAMAS ESTÁ VAZIA. LUZ GERAL. OUTRO SENHOR, USANDO PIJAMAS, ENTRA EM CENA, TAMBÉM COM A AJUDA DE UMA BENGALA E VAI ATÉ O PROSCÊNIO.

Maneco         – Já não me lembro mais quanto tempo que estou aqui neste hospital, aliás, na verdade, não sei bem porque cheguei aqui! O estranho é que minha mulher não veio me visitar nenhum dia. Ninguém veio me ver, nem meus filhos, nem meus netos, nem mesmo os meus amigos que sempre tiveram ao meu lado, vieram me fazer uma visita. (ELE TAMBÉM TEM UM CATETER NASAL. ANDA VAGAROSAMENTE. PARA) Quando foi que eu comecei a usar essa bengala? Pelo menos quando minha mulher me trouxe pro hospital e não precisava disso. (MEXE NAS PERNAS) Que dia eu comecei a usar isso aqui? (RESPIRA COM DIFICULDADE) E essa canseira que não passa! (PUXA O AR E NÃO CONSEGUE. TOSSE) Será que ainda vou ficar muito tempo neste hospital? Estou com tanta saudade da minha mulher, dos meus filhos, dos meus amigos! Se eu me lembro bem, o médico me disse que logo, logo eu voltaria pra casa. Esse logo, logo não chega nunca!

ELE CAMINHA ATÉ A CAMA VAZIA E SE DEITA. OUVE-SE UM GRITO DE DOR. O APARELHO DE UMA DAS CAMAS COMEÇA APITAR SEM PARAR. BLACK OUT. SILÊNCIO. LUZ GERAL. OUTRO SENHOR, TAMBÉM USANDO PIJAMAS E PORTANDO UMA BENGALA. ENTRA EM CENA E VAI ATÉ O PROSCÊNIO.

Zeca               – Meu Deus! Eu nunca me senti assim tão sozinho na minha vida, desde que entrei neste hospital não sei notícia de ninguém! Até os meus amigos de todo dia não vieram me ver. Não sei nem há quantos dias estou aqui dentro! Minhas ideias andam meio embaralhadas. Que dia será hoje? Será que é noite ou será que é dia? E essa sensação de não ter ar que não passa? (ELE TAMBÉM TEM UM CATETER NASAL. TENTA PUXAR O AR E NÃO CONSEGUE). Essa dor no peito… Ô, meu Deus, não quero morrer ainda não, viu? Tenho muita vida pra viver! Quando eu comecei usar essa bengala que não me lembro? Deve ser porque eu não aguento mais ficar de pé!

CAMINHA, VAGAROSAMENTE, COM A AJUDA DA BENGALA E SE DEITA NA CAMA VAZIA. OS APARELHOS VOLTAM A APITAR DESCONTROLADAMENTE, OUVEM-SE VOZES ENTRELAÇADAS. OS APARELHOS PARAM. SILÉNCIO. BLACK OUT. LUZ GERAL. UM SENHOR ENTRA EM CENA, TRAJANDO UM PIJAMA, TEM OS PÉS DESCALÇOS, SE APOIA EM UMA BENGALA. DO OUTRO LADO, ENTRA UM OUTRO SENHOR,  TAMBÉM TRAJANDO UM PIJAMA, TEM OS PÉS DE DESCALÇOS. CAMINHA VAGAROSAMENTE.

Juvenal         – Maneco!

Maneco         – Juvenal!

OS DOIS SE ABRAÇAM. ELES SE SEPARAM.

Juvenal         – Por onde tu andava, meu amigo?

Maneco         – Estive internado! Muito mal! E você?

Juvenal         – Eu também!

Maneco         – Foi o vírus também?

Juvenal         – E não foi? Fiquei um trapo!

Maneco         – E eu?

Juvenal         – O pior é o medo de não ver mais ninguém!

Maneco         – Nunca sentia tanta saudade da minha mulher, dos meus filhos, dos meus netos… Até de vocês eu senti saudade!

Juvenal         – Vocês também me fizeram muita falta!

OS DOIS SE ABRAÇAM NOVAMENTE. SE SEPARAM.

Juvenal         – Gosto muito de você, meu amigo!

Maneco         – Você sempre foi meu irmão!

Juvenal         – E a quanto tempo, hein?

Maneco         – Desde quando você namorava a minha mulher.

Juvenal         – Mas eu nunca tive chance. Vocês sempre foram apaixonados demais! Nunca teria chance. Preferi preservar a nossa amizade.

Maneco         – E você sempre foi um bom amigo!

Juvenal         – Só que pensei muitas vezes roubar ela te ti, viu?

Maneco         – Devia ter tentado! Aquela virou uma peste!

Juvenal         – Deixa de ser rabugento, Maneco!

Maneco         – É que você não conviveu toda uma vida com ela!

Juvenal         – Deixa de ser ingrato, Maneco!

Maneco         – Ingrato, eu?

Juvenal         – Ela sempre te amou. E você também sempre foi louco por ela! Agora fica aí reclamando! Queria ver se você não tivesse mais ela pra você encher o saco? Você ia ficar mais doente que sempre foi.

Maneco         – É que a Lourdes morreu cedo, senão você não estaria falando diferente de mim.

Juvenal         – Você é louco por ela! Queria eu que a Lourdes tivesse comigo até hoje.

Maneco         – Duvido! Mulher do nosso lado a vida toda parece castigo.

Juvenal         – De repente ela se deu conta disso e por isso não veio mais te ver.

Maneco         – Você acha?

Juvenal         – Ah, se a Lourdes tivesse viva!

Maneco         – Mas você também vivia reclamando dela!

Juvenal         – Implicância boba minha!

Maneco         – Vivia dizendo que era um inferno viver com ela.

Juvenal         – Tudo mentira! Na verdade eu fui muito feliz com a Lourdes, viu?

Maneco         – Não parecia! Do jeito que reclamava dela!

Juvenal         – Ela sempre foi meu par perfeito. Dançar com ela, era dançar sobre as nuvens. E olha que eu era bom nisso, hein! Agora minhas pernas não deixam mais, mas quando eu pegava na cintura dela, a gente deslizava pelos salões. Pena que ela já se foi! Senti tanta saudade dela nesses dias, que até sonhei que ela vinha me buscar.

Maneco         – Força, meu amigo! Nós estamos juntos!

Juvenal         – E você devia dar mais valor para Maria e deixar de ser um velho rabugento e reclamam.

Maneco         – Mas ela é uma ingrata! Sabe por que Juvenal? Ela não veio me visitar um só dia, e até agora ainda não veio me ver.

Juvenal         – Ela vai vir, Maneco! Agradece a Deus que ela está contigo!

Maneco         – Outro que também é um ingrato, é o Zeca!

Juvenal         – Você não ficou sabendo?

Maneco         – Não. O quê aconteceu? Não vai dizer que meu amigo…

Juvenal         – Ele foi internado um dia antes de mim, tava muito mal que foi direto para UTI, também estou muito preocupado com ele.

Maneco         – Eu não sabia! Eu já estava internado.

Juvenal         – Eu não tinha como te avisar!

Maneco         – Eu me lembro que fui internado. Não sei bem que dia. Foi tudo tão de repente.

Juvenal         – Eu ia visitar ele no dia seguinte, só que na madrugada minha filha me levou para o hospital e não vi mais ninguém.

ENTRA UM SENHOR, TRAJANDO UM PIJAMA, TAMBÉM TEM OS PÉS NO CHÃO. CAMINHA COM A AJUDA DE UMA BENGALA.

Zeca               – Quem quer jogar porrinha ai?

OS TRÊS APONTAM AS MÃOS FECHADAS

Juvenal         – Eu quero quatro!

Marreco         – Eu quero sete!

Zeca               – É três!

OS TRÊS ABREM AS MÃOS VAZIAS.

Zeca               – Deu lona!

OS TRÊS SE ABRAÇAM.

Zeca               – Estava com tanta saudade de vocês, meus amigos! Nunca me senti tão sozinho!

Maneco         – Olha quem diz que está com saudade! O velho babão que anda cheio de menininhas!

Juvenal         – Você não perde a oportunidade, hein, Maneco?

Zeca            – Aquelas meninas todas não são nada perto dos meus amigos! Depois que fiquei no hospital é que percebi como vocês me fazem falta.

Maneco         – Desculpa, Zeca! A gente também tava com saudade de você, amigo!

Juvenal         – Também está de bengala, Zeca?

Zeca               – Ganhei isso no hospital!

Juvenal         – Também ganhei a minha no hospital!

Zeca               – E cadê a sua, Maneco?

Maneco         – Joguei pela janela!

Zeca               – Esse é meu amigo, Maneco, rabugento como sempre!

TODOS RIEM.

Zeca               – Por onde vocês andavam que não foram me visitar um só dia!

Juvenal         – A gente estava internado também

Zeca               – Os dois?

Maneco         – Esse vírus nos derrubou!

Zeca               – Eu sabia que você tinha internado, mas quando eu ia te visitar, fiquei tão mal que acabei sendo internado no dia seguinte que a Maria.

Juvenal         – Que Maria?

Maneco         – Você está falando da minha Maria?

Zeca               – Não te contaram?

Maneco         – Contaram o quê?

Juvenal         – O quê aconteceu, Zeca?

Zeca               – A Maria estava internada também.

Maneco         – E cadê ela? Ninguém me falou nada.

Zeca               – Você estava internado muito mal. Depois eu me internei também muito mal.

Juvenal         – E a Maria?

Zeca               – Eu vi a Maria! Não sei. Será que não era ela? Ando muito confuso.

Maneco         – A Maria está aqui? Cadê? Maria! Me leva pra casa, Maria! Eu estou com saudade de brigar contigo! Maria, eu te amo, Maria!

MANECO ANDA COM DIFICULDADES PELA CENA. RESPIRA COMO QUEM BUSCA O AR. CAMINHA ATÉ SE DEITAR EM UMA DAS CAMAS VAZIAS. O APARELHO DA CAMA DE MANECO VOLTA A APITAR.

Juvenal         – Onde foi o Maneco?

Zeca               – Foi atrás da Maria! Eles se amam de verdade! E você que era louco por ela, hein? Essa você perdeu!

Juvenal         – É, meu amigo, essa eu perdi de lavada!

Zeca               – Mas você teve a Lourdes, e eu?

Juvenal         – E você, Zeca?

Zeca               – É Juvenal, e eu?

Juvenal         – Você aproveitou a vida, Zeca! Não tem do que reclamar! Sempre foi um bom vivant! Carros e garotas novas toda hora! E você vem me dizer: e eu? Queria eu ter levado a vida que você levou!

Zeca               – Mas agora estou aqui, abandonado em uma cama de hospital e ninguém veio me ver! Você não, você teve a Lourdes, teve filho, netos, formou uma família, você nunca vai estar sozinho!

Juvenal         – Então, mas eu também estou! Ou vou se acha que vieram me ver? Vieram nada! Filha e netos são todos ingratos, isso sim! A gente fica velho, ninguém mais quer saber da gente.

Zeca               – É claro que não me arrependo de tudo que fiz, foi a vida eu eu escolhi! Só que podia ter juntado meus trapinhos com alguém, pelo menos nessa hora, eu teria alguém para encontrar.

Juvenal         – Mas teus amigos estão aqui contigo! Me dá um abraço!

OS DOIS SE ABRAÇAM. ELES SE APARTAM.

Juvenal         – Se lembra do acordo que fizemos, lá no colégio?

Zeca               – Que acordo?         

Juvenal         – Amigos pra toda vida! E para depois dessa vida também!

Zeca               – E a gente combinou que quem morresse primeiro vim buscar o outro! Lembra disso?

Juvenal         – Claro! Isso já faz mais de sessenta anos, hein?

Zeca               – Será que o Maneco esqueceu?

Juvenal         – Quando ele voltar a gente pergunta pra ele.

Zeca               – Será que ele volta?

Juvenal         – Tenho certeza!

Zeca               – E se ele resolver ficar com a Maria?

Juvenal         – Ele ficou a vida toda com a Maria, mas sempre esteve ao nosso lado. Maneco é parceiro.

Zeca               – Ainda bem que encontrei vocês, estava me sentindo solitário neste hospital!

Juvenal         – Pra falar a verdade, eu também. Até porque a ingrata da minha filha e dos meus netos não deram as caras por aqui.

Zeca               – Mas, sabe, Juvenal, hoje eu queria ter alguém pra encontrar!

Juvenal         – Ih, não estou te reconhecendo, Zeca!

Zeca               – Nem eu, Juvenal! Parece que fiquei um velho melancólico!

Juvenal         – Deve ser da doença. Eu também estou me sentindo abandonado. Foi bom encontrar com vocês. Vocês são meus amigos! Meus irmãos!

ZECA ABRAÇA JUVENAL E COMEÇA A CHORAR.

Zeca               – Estou com medo de morrer sozinho!

Juvenal         – Que morrer nada! A gente não está aqui?

ZECA SE SOLTA DE JUVENAL.

Zeca               – Desculpa, Juvenal!

Juvenal         – Que isso, Zeca, não precisa se desculpar de nada. Nós somos amigos, ou não somos? Estamos juntos pra sempre, lembra?

Zeca               – É isso! Estamos juntos!

JUVENAL COMEÇA A TER DIFICULDADE PARA RESPIRAR. BUSCA O AR E NÃO CONSEGUE.

Juvenal         – Zeca!

Zeca               – Fala, Juvenal?

Juvenal         – Está ficando tudo escuro!

Zeca               – Respira!

Juvenal         – Não consigo.

Zeca               – Devagar!

Juvenal         – Preciso ir, Zeca! Não consigo respirar! A Lourdes! A Lourdes vem me ver! Eu sonhei com ela ontem! Preciso voltar!

Zeca               – Estou aqui contigo!

Juvenal         – Zeca! Zeca! Cadê você?

Zeca               – Estou aqui, meu amigo!

Juvenal         – Maneco! Maneco! Cadê você?

JUVENAL ANDA COM DIFICULDADES PELA CENA. RESPIRA COMO QUEM BUSCA O AR. CAMINHA ATÉ SE DEITAR EM UMA DAS CAMAS VAZIAS. O APARELHO DA CAMA DE JUVENAL VOLTA A APITAR.

Zeca               – Juvenal! Cadê você, Juvenal? Você disse que ia ficar comigo e sumiu! Fez igual o Maneco que foi atrás da Maria e não voltou até agora! Eu não quero ficar sozinho. Estou sentindo muito medo disso tudo! Nós fizemos um acordo, você falou dele. Eu, você e o Maneco! Amigos para sempre e até mais! Agora os dois me deixaram aqui sozinho neste hospital. Cadê vocês!

BLACK OUT.

LUZ GERAL. MANECO ENTRA POR UM LADO E ENCONTRA ZECA CAÍDO NO CHÃO.

Maneco         – O que aconteceu, Zeca? Zeca?

ZECA DESPERTA E É LEVANTADO COM A AJUDA DE MANECO.

Maneco         – Você está bem?

Zeca               – Eu estava aqui conversando com o Juvenal…

Maneco         – E pra onde foi o Juvenal?

Zeca               – Não lembro. Quem é você?

Maneco         – Como que sou eu? O Maneco!

Zeca               – Maneco! Que bom que você veio!

ZECA ABRAÇA MANECO COM TODA FORÇA.

Zeca               – Estava com saudades de você, meu amigo! Ainda bem que você não esqueceu do nosso acordo?

MANECO SE SOLTA DE ZECA.

Maneco         – Que acordo?

Zeca               – Que fizemos no colégio!

Maneco         – Aquela besteira de ser amigo pra sempre?

Zeca               – E quem morresse primeiro vinha buscar o outro?

Maneco         – Você passou a vida acreditando nessa besteira, Zeca?

Zeca               – Nossa amizade foi besteira!

Maneco         – Claro que não! Não somos amigos até hoje? Só não acredito naquela besteira que o Juvenal falou que quem morresse primeiro vinha buscar os outros. Isso sempre foi uma besteira.

Zeca               – E seu morri e estou aqui pra te levar?

Maneco         – Pare com essa besteira, Zeca.

Zeca               – E se eu sou um fantasma que veio buscar o Juvenal e ele fugiu? Agora você está aqui. Posso te levar comigo!

Maneco         – Você deve ter batido a cabeça quando caiu.

Zeca               – Mas não pode ser verdade?

Maneco         – Não! Por acaso você conhece alguém que abraça um fantasma?

Zeca               – Não!

Maneco         – Então você não é um fantasma!

Zeca               – Porque você tem tanta certeza?

Maneco         – A gente se abraçou, Zeca! E vamos mudar de conversa. Que história é essa que você disse que viu a Maria?

Zeca               – Eu vi a Maria!

Maneco         – Eu rodei esse hospital todinho e nem sinal da minha mulher! Que brincadeira mais sem graça, Zeca! Parece que ainda é aquele bom vivant de antigamente que gostava de passar trote em todo mundo!

Zeca               – Mas eu vi a Maria! Eu falei com a Maria! Só se ela não te achou e foi embora.

Maneco         – Eu duvido! Se a Maria tivesse vindo me ver, ela estaria aqui até agora.

Zeca               – Então eu não sei, Maneco!

Maneco         – E o Juvenal?

Zeca               – Ele sumiu!, A gente estava aqui conversando, de repente ele começou a passar mal e foi sumindo, sumindo… foi ficando tudo escuro. Não sei aonde foi o Juvenal! Só lembro de quando você me acordou.

Zeca               –  De repente a Maria encontrou ele.

Maneco         – Que conversa é essa agora, Zeca?

Zeca               – Todo mundo sabe que o Juvenal sempre foi louco pela Maria.

Maneco         – Mas ela me escolheu!

Zeca               – E se ela desistiu de você. Seu velho rabugento!

MANECO ACERTA UM SOCO EM ZECA.

Zeca               – Que violência, Maneco! Eu devia te dar uma bengalada!

Maneco         – Você nunca mais fale isso da minha mulher!

Zeca               – Você continua o mesmo esquentadinho de sempre!

Maneco         – E você que me conhece há sessenta anos devia saber disso. Você parece que não cresceu, velho!

MANECO SE COLOCA DE COSTAS PARA ZECA. ZECA SENTE UMA FORTE FALTA DE AR.

Zeca               – Maneco!

Maneco         – Oras, não me enche, Zeca!

Zeca               – Eu preciso de sua ajuda!

MANECO SAI DE CENA.

Zeca               – Eu não estou conseguindo respirar! Socorro, meu amigo! Me ajuda! Maneco, me ajuda! Maneco! Maneco!

ZECA ANDA COM DIFICULDADES PELA CENA. RESPIRA COMO QUEM BUSCA O AR. CAMINHA ATÉ SE DEITAR EM UMA DAS CAMAS VAZIAS. O APARELHO DA CAMA DE ZECA VOLTA A APITAR. OS TRÊS ESTÃO NA CAMA. OS APARELHOS COMEÇAM A AUMENTAR A FRENQUÊNCIA DE APITOS. BLACK OUT. LUZ GERAL. MANECO ESTÁ EM UM DOS CANTOS, NO PROSCÊNIO, VESTE UM TERNO. ESTÁ DESCALÇO. FOCO EM MANECO.

Maneco         – Maria, onde você está Maria que não vem me visitar? Eu sei que fiquei um velho ranzinza e rabugento e que passava os dias a implicar contigo, mas é meu jeito, você me conhece há mais de cinquenta anos! Você sabe que eu te amo de verdade. Eu estou sentindo a tua falta! É muito triste toda essa solidão aqui! (TENTA BUSCAR O AR. RESPIRA COM DIFICULDADES) Na verdade, não é só a solidão, estou com medo da morte. Morrer sem te ver e não poder te ver mais, acho que não vou suportar! Com quem vou implicar por mexer nas minhas coisas? Com quem vou reclamar da comida fria? Com quem vou reclamar por esconder os meus remédios? Com quem vou reclamar por ficar pegando no meu pé? Pra quem vou pedir perdão por tudo isso? Pra quem vou dizer que amei a vida inteira e nunca disse? (TENTA BUSCAR O AR. RESPIRA COM DIFICULDADES) Eu te amo, Maria, vem me tirar daqui! Eu te imploro! Também estou com medo de morrer e não ver meus amigos Juvenal e Zeca, eles sempre foram os meus irmãos de verdade, eles se acostumaram com o meu jeito rabugento, minha mania de tomar remédios, com meu jeito de ser amigo deles. Eles foram grandes companheiros e conselheiros na minha vida. Eles vieram me ver, mas soube também que eles estão internados como eu e não vão poder vir aqui a toda hora. Juvenal sempre foi o melhor amigo, não esperava que ele continuasse sendo meu amigo depois que você me escolheu Maria. Nunca tocou uma só vez nesse assunto. Que saudade, meu amigo Juvenal! (TENTA BUSCAR O AR. RESPIRA COM DIFICULDADE) O Zeca, você conheceu o Zeca, sempre foi de levar a vida mais leve. Ele sabe viver a vida, aquele velhaco! Eu queria aproveitar a vida como ele, mas nunca tive a coragem de viver na corda bamba que ele sempre viveu. E o Zeca é alegre, divertido, sempre gosta de fazer piada com tudo! Ê, meu amigo, Zeca, de quantas coisas você fez a gente rir, não é mesmo? Que saudade, meu amigo Zeca!

FECHA O FOCO EM MANECO. ABRE O FOCO NO CENTRO DO PROSCÊNIO. ONDE SE ENCONTRA JUVENAL VESTIDO COM UM CONJUNTO DE AGASALHO ESPORTIVO, TAMBÉM ESTÁ DESCALÇO.

Juvenal         – Sabe, Lourdes, sinto muito a tua falta, nossa filha tem cuidado bem de mim, mas é diferente. Você foi uma companheirona, sabia? Eu nunca te confessei, mas acho que você sempre soube, meu único amor foi a Maria, mas ela escolheu meu amigo Maneco, não podia passar a minha vida com alguém que não gostasse de mim. E você me amava, disso eu tenho certeza! (TENTA BUSCAR O AR. RESPIRA COM DIFICULDADES) E eu aprendi a gostar muito de você! Olha que acho que foi quase amor! Mas a gente foi feliz, não foi? Nunca tivemos uma briga sequer! Sofri tanto quando aquela doença maldita te levou! Sofro até hoje! Não foi justo contigo. Você sempre foi um boa esposa, uma boa mãe, cuidou da nossa família como ninguém mais cuidaria! Ai como eu queria te encontrar de novo! (TENTA BUSCAR O AR. RESPIRA COM DIFICULDADES) E, os meus amigos Maneco e Juvenal, hein? Você sempre foi gentil com eles, mesmo com o Maneco, apesar de tudo! E eles são meus amigos até hoje, sabia? Eles vieram me ver, mas soube que eles também estão internados como eu. Tomara que eles saiam dessa! Maneco, aquele velho ranzinza e rabugento, porque, Lourdes, ele ficou insuportável, sabia? Sempre foi um grande amigo! Mesmo quando a Maria escolheu ele, eu não quis deixar de ser amigo dele. Devia ter dado um soco naquela cara, mas ele não tinha culpa, o amor é quem escolhe, e o amor escolheu ele. Sempre foi um irmão, cuidou de tudo  quando você teve que partir. Tenho medo de morrer e não ver mais o Maneco! Devo muito a ele! (TENTA BUSCAR O AR. RESPIRA COM DIFICULDADE) E o Zeca, esse sempre foi o ponto de equilibro da nossa amizade. Tinha sempre uma história engraçada pra contar sobre as inúmeras namoradas que ele teve na vida! Sempre esteve do nosso lado, toda vida! Ele levava aquela vida sem compromissos e estava certo, o Zeca não esquentava com nada, deixava o barco correr e sempre estava do nosso lado quando a gente não sabia o que fazer com a vida. Estou sentindo muita saudade do meu amigo Zeca!

FECHA O FOCO EM JUVENAL. ABRE O FOCO NO OUTRO CANTO DO PROSCÊNIO ONDE ESTÁ O ZECA QUE VESTE UMA CALÇA DE TERGAL E UMA CAMISA DE SEDA DE MANGAS LONGOS. ESTÁ DESCALÇO.

Zeca               – É, parece que estou chegando no fim da vida! Mas não tenho que reclamar de nada, eu vive a vida que eu pude viver. Eu fui feliz! Curti cada momento da minha vida. E uma coisa eu posso falar com sabedoria: Eu nunca esquentei com nada e essa foi a minha melhor escolha. Eu sempre estive comigo e nunca deixei que ninguém me dissesse o que eu tinha que fazer, eu levei minha vida como sempre quis, mas só me arrependo de uma coisa, nunca ter encontrado o amor. Vive só de aventuras e hoje a solidão me assusta como nunca me assustou! (TENTA BUSCAR O AR. RESPIRA COM DIFICULDADE) Ainda bem que nessa vida encontrei dos amigos! Não, encontrei dois irmãos! Maneco e Juvenal sempre foram a minha família! Quando estava com eles a solidão não me assustava, e conseguimos ficar amigos até hoje. Mais de sessenta anos de amizade! O Maneco, um trabalhador responsável, um pai de família, um chato, às vezes até chato demais quando falava que eu tinha que parar de levar a vida sem responsabilidade. Era estressado como ele só, por isso que virou um velho rabugento e hipocondríaco! Mas era nele que eu pensava quando ia fazer alguma burrada na vida. Maneco é um irmão mais velho! Ele veio me ver, mas soube que também não está nada bem! Maneco, meu irmão, que saudade! (TENTA BUSCAR O AR. RESPIRA COM DICIFULDADE) Já o Juvenal tem minha admiração! Soube superar a escolhe da Maria pelo Maneco e continuou firme com a amizade. Juvenal, sempre foi mais descontraído que o Maneco. Foi um bom marido para Lourdes, que gostava dela, mais do que gostava dela. Juvenal, sempre foi um pé de valsa e encontrou na Lourdes seu par perfeito acho que por isso que eles foram felizes. Juvenal sempre estava comigo quando era para irritar o Maneco. Ele veio me visitar outro dia, mas soube que ele está doente. Tenho saudade, de você, Juvenal!

LUZ GERAL. OS TRÊS SE OLHAM.

Maneco         – Juvenal!

Juvenal         – Zeca!

Zeca               – Maneco!

Maneco         – Vocês também saíram do hospital?

Juvenal         – Eu acho que a gente morreu!

Maneco         – Para com essa conversa mole, Juvenal!

Zeca               – Será, Juvenal!

Juvenal         – Eu acho! Não estamos mais de camisola do hospital.

Maneco         – Isso só mostra que já estamos fora daquele hospital!

Zeca               – Cadê nossas bengalas?

Juvenal         – Pra quê a gente ia precisar de bengala se a gente ta morto?

Maneco         – Eu não to morto!

Zeca               – Eu não conheço este lugar!

Juvenal         – Eu também não!

MANECO ANDA PELA CENA. JÁ NÃO TEM MAIS DIFICULDADE DE ANDAR.

Zeca               – Olha o silêncio deste lugar!

Juvenal         – (RESPIRA FUNDO) Olha, já possa até respirar!

Maneco         – Vocês deve estar malucos! Maria nem veio me buscar!

Juvenal         – Nós cumprimos a nossa promessa!

Zeca               – Morremos, mas estamos juntos!

Maneco         – Eu não acredito! Eu não morri!

Juvenal         – Amigas para além da vida, lembram?

JUVENAL ESTENDE, ZECA TAMBÉM ESTENDE A SUA.

Zeca               – Vamos, Maneco, estende a tua também!

Os Três          – Amigos pra toda a vida e além!        

OS TRÊS SAEM DE CENAS, ABRAÇADOS. MANECO SAI RESMUNGANDO QUE NÃO ESTÁ MORTO.

FOCO NAS TRÊS CAMAS VAZIAS E ARRUMADAS.

A LUZ VAI CAINDO EM RESISTÊNCIA. FECHAM-SE AS CORTINAS.

– FIM –


Tempos de Agradecer

dezembro 17, 2021

Às vezes, brigamos com Deus porque as coisas saem fora do nosso controle, mas nada está fora de controle, nunca, nós é que idealizamos fortalezas indestrutíveis e achamos que veremos tudo ruir ao sinal de uma ou outra fissura, na verdade, nós não duvidamos de Deus, duvidamos da nossa Fé, temos medo do sofrimento, pois sofrer sempre dói, mas só através do sofrimento é que somos capazes de ver a vida de uma forma diferente.

Temos vivido tempos muito duros, tempos de dor e de sofrimento, mas no meio de tanta turbulência, é possível encontrar momentos e situações que acalmam a alma e nos mostram que cada passo dado, ainda que com pedras e  espinhos pelo caminho, valeu muito à pena. É preciso abrir os olhos para enxergar as coisas boas que nos acontece em meio ao temporal, sempre tem um raio de sol brilhando que nos dá a certeza de dias melhores.

A vida é cíclica, mas só queremos que os ciclos sejam de felicidades, não sabemos lidar com o ciclos de dificuldades, mas são justamente nos ciclos difíceis que construímos o caminho para alcançar a felicidade, que, na verdade, são gotículas que caem sobre as nossas vidas, de quando em quando, não há vida plena de felicidade, por isso, cada momento feliz deve ser de êxtase e agradecimento.

Eu tenho muito a agradecer, pois esse ano, mesmo em meio a temporais, fui banhado, várias vezes, por gotículas de felicidade, que me deram a certeza de que tudo o que eu fiz, ainda que não esteja do jeito que eu imaginei, foi o melhor que eu podia ter feito com o que eu tinha nas mãos. A gente não pode ter tudo, a gente tem que estar feliz com o que tem, eu fui! Realmente seria muito injusto com Deus, se reclamasse de alguma coisa.

No meu ano não me faltou trabalho, nem saúde, a família esteve bem, na medida do possível e as sementes que plantei durante os meus quinze anos de Dramaturgia, frutificaram uma penca enorme de carinho, que fizeram os meus dias muito felizes. Por isso, nesse período em que a gente sempre faz um balanço do que vivemos, queria pedir perdão a Deus por brigar com eles nos momentos difíceis e dizer, com toda a certeza que só tem uma palavra a dizer neste ano: Gratidão!

E a todos vocês que tiraram os meus textos do papel e deram vida a todos os personagens que criei, fica aqui, meu muito obrigado! Saibam que cada um de vocês, foi uma gotícula de felicidade que me banhou em meio a todo esse temporal que estamos passando e que Deus, possa abençoar a vida de cada um de vocês, pois essa é a única forma que encontrei de pagar toda a felicidade que vocês me proporcionaram.


O Teatro pelo Teatro

novembro 26, 2021

Bem longe dos holofotes das mídias e bem distante das verbas de incentivos culturais, o Teatro continua cumprindo sua missão de levar a arte para os que nem sempre tem condições de consumir cultura, e isso é assim desde os primórdios de nossa civilização. O Teatro sempre foi à arte mais popular entre todas as outras, muito embora se pareça que o Teatro seja uma arte elitista, custe caro e só exista nos palcos de grandes teatros. Ledo engano.

O Teatro é mambembe, é itinerante, é diversão e distração nas ruas; o Teatro é feito tipo brincadeira, é arte nas escolas, é missão para alguns que sabem que muito mais importante do que ser famoso, é continuar levando histórias através de sua arte, ainda que seja de forma amadora, sem ser conhecido, ou reconhecido pelas pessoas; o Teatro não precisa de muita coisa, além de alguém e de uma história para contar.

E por que o Teatro resiste até hoje? Porque o Teatro, pelo mundo inteiro, é feito por quem ama o Teatro, acima de qualquer coisa e não é porque não há verbas, porque se fecham secretarias de culturas, que dificultam os incentivos e fecham os espaços que o Teatro morrerá, ele se renova a cada dia e isso acontece porque sempre existirá alguém que ama o Teatro pelo Teatro e que entende que o quê, realmente importa, é fazer Teatro.

É claro que quem quer viver da arte, precisa ter condições de se sustentar, mas, isso é assunto para uma outra hora, aqui, o que quero salientar é que, há os que não se importam em viver de arte, que querem apenas fazer arte, realizar a emoção e o desejo de fazer Teatro e é essa, a essência que mantém o Teatro vivo através dos tempos. O Teatro é um bichinho que quando pica, contamina a alma por inteiro e ninguém se importa se ele dará dinheiro.

Durante todo esse tempo que divido minhas atividades com a Dramaturgia, pude entender essa essência do Teatro, pude perceber, como percebo até hoje, o quanto os meus textos contribuiram e contribuem para que as pessoas que fazem Teatro pelo Teatro, tivessem a chance de subir em um palco para fazer, simplesmente, Teatro e realizarem o desejo de interpretar, de contar uma história, de levar diversão questionamentos e reflexões para as pessoas.

É certo que muitos que amam o Teatro, querem conseguir sobreviver da arte do Teatro, mas nem sempre isso é possível, há muitos, para poucas chances, por isso, foi muito bom entender que nem sempre a gente consegue ter espaço para ser remunerado pela nossa arte, mas também foi muito bom saber e ter a certeza que meu propósito está em escrever histórias teatrais, para manter viva à chama dessa gente que ama fazer Teatro, pelo Teatro.


15 anos de Dramaturgia

novembro 5, 2021

A Dramaturgia entrou em minha vida de uma forma natural, eu fazia teatro, mas achava que o palco não era para mim, as histórias, sim, essas me interessavam. Eu sempre gostei de escrever, principalmente poesias e quando percebi que escrever histórias para teatro era possível, comecei a rabiscar os meus primeiros textos, ainda com pouca técnica, de forma instintiva e com o pouco que sabia de carpintaria teatral.

Não tinha maiores pretensões com a Dramaturgia, queria apenas escrever as minhas histórias, achava incrível criar universos, personagens que dialogavam e conflitos que se entrelaçavam até as suas soluções. Escrevia os textos como um “hobby”, nunca achei que os textos sairiam do papel. Além da vergonha de mostrá-lo, já não fazia de teatro e não tinha como viabilizar as montagens dos meus textos, mas, escrevia sempre uma história nova.

Quando vi, tinhas vários ensaios de dramaturgia e três textos infantis, prontos para serem montados, foi aí que descobri que era possível inscrever os meus textos em um Concurso de Dramaturgia, sob um pseudônimo, era mais fácil colocar os meus textos para avaliação. É claro que não ganhei nada com os três textos que eu já havia escrito, não que eles fossem ruins, não são, pois todos os três foram exaustivamente montados por escolas e grupos de teatro.

A participação no Concurso de Dramaturgia me deu coragem e vontade para continuar escrevendo textos para teatro, mas sentia que o pouco que conhecia, era realmente pouco para ser um Dramaturgo. Tinha muita dificuldade para escrever Textos para Teatro Adulto, o universo infantil, sempre me encantou mais, mas a partir do encontro com o Nelson Albissú, vi que podia ser sim, um dramaturgo, ele me atestou isso por e-mail.

As redes sociais, já começavam a ganhar o interesse das pessoas e elas foram fundamentais para que os meus textos ganhassem o Mundo, literalmente. A essa altura, já tinha a certeza que dividiria a minha vida com a Dramaturgia, ainda que de uma forma não tão profissional, mas comecei a batalhar pelo meu espaço na Dramaturgia Contemporânea Brasileira. Divulguei meus textos, vi muitos montados, ganhei Concursos de Dramaturgia e não parei de escrever.

Hoje estou aqui comemorando 15 anos de Dramaturgia, 15 anos que, pela primeira vez, um texto meu deixou o papel e ganhou os palcos, eu que nem imaginava chegar tão longe, que queria apenas escrever histórias para me distrair, hoje tenho mais de duas dezenas de textos para teatro, roteiros para cinema, projetos de séries para TV e Internet e livros infantis, me tornei, de fato, um trabalhador da escrita, que ainda busca seu espaço, mas já é extremamente realizado com tudo que já conquistou.

E, diante de tantas mensagens que venho recebendo, o que fica é a certeza de que se existia um propósito, ele foi plenamente alcançado, pois escrever histórias, sempre foi meu objetivo, mas, o Dramaturgo só foi possível porque tantas pessoas, atores, diretores, produtores, grupos de teatro, professores de teatro, acreditaram em meus textos, por isso, não podia terminar sem deixar de expressar a minha imensa e eterna gratidão a todos.


Quanto custa a Liberdade?

setembro 24, 2021

CENÁRIO: RUA DE UMA CIDADE

EM CENA, SENTADO NO CENTRO DO PALCO, UM HOMEM CEGO, PEDE ESMOLA ENQUANTO CANTA COM SEU VIOLÃO.

Homem          – Quanto custa a liberdade                      

                          Para quem está preso

                          Nas garras do amor?                     

UM CASAL ENTRA EM CENA DISCUTINDO.

Mulher           – Eu não aguento mais você!

Homem1       – Mas saiba que eu também não agüento mais você!

Homem          – Uma esmolinha pelo amor de Deus! Ajude esse pobre homem que está preso na escuridão!

O HOMEM1 JOGA UMAS MOEDAS NA CAIXINHA DO HOMEM.

Homem          – Deus lhe pague!

Mulher           – Eu preciso de liberdade!

Homem1       – E você não tem liberdade?

Mulher           – Não!

Homem1       – E quem lhe prende?

Mulher           – Você!

Homem1       – Desde quando?

Mulher           – Desde sempre!

Homem1       – Mas nunca prendi você!

Mulher           – Eu nunca tive liberdade!

Homem1       – Você não me ama mais?

Mulher           – Não estou falando de amor, estou falando de liberdade!

Homem1       – Amor e liberdade são um casal.

Mulher           – Nós não somos mais um casal!

Homem1       – É, você não me ama mais, acho que o nosso amor chegou ao fim.

Mulher           – Eu já disse que não estou falando de amor! Eu só quero um pouco de liberdade!

Homem1       – Se o nosso amor hoje te prende, ele não existe mais. Nunca te tirei a liberdade, você que se prendeu a mim pelo amor. Nós somos livres, mesmo presos ao nosso amor, ele tira a nossa liberdade. Achei que a gente fosse livre, ainda que juntos. Você tem alguém?

Mulher           – Eu não tenho ninguém! Eu te amo, droga! Eu só quero um pouco de liberdade! Este amor… Eu já decidi!

Homem1       – Você sempre teve liberdade! Quem te prendia era o amor e era por ele que você pensava não ter liberdade, mas você sempre teve. Eu sempre me senti livre, porque te amar sempre me deu liberdade, eu não estou preso a você, eu amo você e isso não me prende. Se o nosso amor está te prendendo, é porque o amor acabou.

A MULHER ABRAÇA O HOMEM1.

Mulher           – Eu te amo! Eu amo te amar!

Homem1       – Eu também te amo!

OS DOIS SE SEPARAM.

Mulher           – O amor não acabou, mas eu vou… Preciso ir, até para saber se minha liberdade está no amor que eu sinto por você! Eu te amo!

Homem1       – Espero que você não demore!

A MULHER SAI DE CENA POR UM LADO E O HOMEM PELO OUTRO.

Homem          – Quanto custa a liberdade

                          Para quem não sai ileso

                          Do veneno do rancor?

ENTRAM EM CENA UM HOMEM E UMA MULHER.

Homem          – Uma esmolinha pelo amor de Deus! Ajude esse homem que está preso dentro da escuridão!

Homem2       – Você é uma vagabunda!

Mulher1         – Você não é meu dono!

Homem2       – Se a gente ta junto, não tem que ficar se esfregando com um viado!

Mulher1         – A gente ta junto, mas eu sou livre, e meu amigo não é viado!

Homem2       – É um viadinho sim! Tava lá rebolando contigo.

Mulher1         – Eu não sei o quê eu vi em você! Você é nojento!

O HOMEM2 DÁ UM TAPA NA MULHER1

Homem2       – Olha como fala comigo, sua vagabunda! Agora vamos pra casa que a brincadeira acabou!

A MULHER TIRA DA BOLSA UM ESTILETE.

Mulher1         – Eu não quero mais nada com você!

O HOMEM2 VAI PRA CIMA DA MULHER1.

Mulher1         – Não encosta em mim!

O HOMEM2 TENTA AGARRAR A MULHER, QUE RISCA O ESTILETE EM SEU BRAÇO.

Homem2       – Você me cortou!

Mulher1         – Isso é só um aviso! Agora vai lá e pede pra tua amante cuidar do teu braço. Seu corno!

A MULHER1 SAI DE CENA. O HOMEM2 SAI ATRÁS DELA.

Homem          – Quanto custa a liberdade

                          Para quem tem coragem

                          De falar o que verdadeiramente pensa?

ENTRA UMA MULHER SEGURANDO UM CARTAZ DE PROTESTO.

Mulher2         – Eu quero liberdade!.. Eu quero liberdade!… Abaixo a esse bando de covardes!… Fora com esses juízes canalhas! Fora com esses políticos ladrões!… Eu quero liberdade!

ENTRA UM POLICIAL.

Policial          – Minha senhora, a senhora não pode fazer esse protesto aqui!

Mulher2         – Por quê? Agora é proibido falar o que a gente pensa?

Policial          – Minha senhora, o juiz determinou que não se pode atentar contra a democracia.

Mulher2         – Quem está atentando contra a democracia, eu? Ou esse juiz que não me deixa falar o quê penso?

Policial          – Minha senhora!…

Mulher2         – Eu quero liberdade!.. Eu quero liberdade!… Abaixo a esse bando de covardes!… Fora com esses juízes canalhas! Fora com esses políticos ladrões!… Eu quero liberdade!

Policial          – Minha senhora, se a senhora continuar com isso, vou ser obrigado a lhe levar presa.

Mulher2         – Qual é o meu crime? Falar o que eu penso?

Policial          – Bom, a senhora não me deixou escolha: A senhora está presa! Estique suas mãos!

O POLICIAL COLOCA ALGEMAS NA MULHER2.

Mulher2         – Isso é uma arbitrariedade! Isso sim é contra a Democracia!

Policial          – Ordem do juiz não se contesta, se cumpre!

Mulher2         – Eu quero liberdade!.. Eu quero liberdade!… Abaixo a esse bando de covardes!… Fora com esses juízes canalhas! Fora com esses políticos ladrões!… Eu quero liberdade!

OS DOIS SAEM DE CENA.

Homem          – Quanto custa a liberdade

                          Para quem se faz de covarde

                          E sabe bem que o crime compensa?

ENTRAM EM CENA UM HOMEM E UMA MULHER.

Homem          – Uma esmolinha pelo amor de Deus! Ajude esse pobre homem que vive preso na escuridão!

A MULHER COLOCA UMA MOEDA NA CAIXINHA DO HOMEM,

Homem3       – Você já fez a transferência do dinheiro para o Deputado?

Mulher3         – Tudo como combinado!

Homem3       – E as passagens já estão compradas?

Mulher3         – Passagem só de ida para Ilhas Caymam como o você pediu!

Homem3       – Perfeito!

Mulher3         – Mas se a polícia aparecer no escritório?

Homem3       – Fique tranqüila!

Mulher3         – Eu não quero complicação para o meu lado!

Homem3       – Não se preocupe! A Justiça joga no nosso time! Assim que me estabelecer, eu mando buscar você, benzinho!

O HOMEM3 DÁ UMA BITOCA NA MULHER3.

Homem3       – Aí, nós vamos viver uma vida de luxo no nosso paraíso!

Mulher3         – Você é meu herói!

A MULHER3 DÁ UMA BITOCA NO HOMEM3.

Homem3       – Agora é melhor eu partir, a justiça é do nosso time, mas a polícia, às vezes, não!

Mulhe3          – Então, vamos! Vou te levar ao aeroporto! Em breve estarei chegando por lá pra gente morrer de amor!

OS DOIS SAEM DE CENA.

Homem          – Quanto custa a liberdade

                          Custa o preço que você quiser

                          Às vezes custa uma vida inteira

                          Às vezes custa uma desilusão

                          Às vezes custa uma brincadeira

                          Às vezes custa dias de prisão

                          Mas, ser livre, é tudo o que se quer!

                          Só precisa estar disposto a pagar!

O HOMEM RECOLHE SUAS COISAS, SE LEVANTA E SAI DE CENA TATEANDO O CHÃO COM SUA BENGALA.

APAGUAM-SE AS LUZES. FECHAM SE AS CORTINAS.

– FIM –


A Farsa do Rei Fanfarrão

abril 14, 2021

O FRIO NA BARRIGA CONTINUA, MESMO SENDO ON-LINE!

Classificação Livre! A Farsa do Rei Fanfarrão é uma comédia nobre de Paulo Sacaldassy, que conta a história de um reino não muito distante, onde um Rei e seu Conselheiro armam mil e umas falcatruas para se darem bem. 

Duração da peça: 40min.

Devido a pandemia respeitando todos os protocolos de segurança de prevenção à Covid-19. A Cia. Locarte – Arte & Cultura produz e apresenta sua primeira montagem on-line com os alunos do Curso On-line Iniciação Teatral.

Uma história que irá tirar várias gargalhadas!

Direção Geral – Priscila Locarte 

Coord. de Dir. e Prod. – Nani Dambinskas 

Texto – Paulo Sacaldassy

Edição de Vídeo – Estefano Quirino

Elenco: 

Rei: Beto Mitsunaga

Rainha: Felipe Fonseca

Princesa: Lauren Gomes

Conselheiro: José Norberto

Lacaio: Felipe Fonseca

Classificação Livre! A Farsa do Rei Fanfarrão é uma comédia nobre de Paulo Sacaldassy, que conta a história de um reino não muito distante, onde um Rei e seu Conselheiro armam mil e umas falcatruas para se darem bem. 

Devido a pandemia respeitando todos os protocolos de segurança de prevenção à Covid-19. A Cia. Locarte – Arte & Cultura produz e apresenta sua primeira montagem on-line do Curso On-line Iniciação Teatral.

Uma história que irá tirar várias gargalhadas!

A sala zoom estará aberta a partir da 15h45.

Após a apresentação, haverá uma conversa com os atores-alunos(as) e com a equipe Cia. Locarte – Arte & Cultura.

Garanta já o seu ingresso!!!



Fulana, Sicrana e Beltrana em Belém

outubro 30, 2020

A comédia “Fulana, Sicrana e Beltrana” de Paulo Sacaldassy, voltou aos palcos de Belém para uma curta temporada pós período de distanciamento social. Semana passada integrou o projeto “Círio na Estação 2020” e este fim de semana estará em cartaz no Teatro Bosque Grão Pará.

https://www.diarioonline.com.br/entretenimento/cultura/612198/comedia-sobre-universo-feminino-volta-aos-palcos