A Aventura da Vida

março 21, 2024

Quando o grito prende na garganta

E não há nem como gritar

Respira fundo

E corre pr’o fundo da alma

Aceita a dor que é latente

E que arde no peito

Aceita a derrota de agora.

Quando a lágrima prende nos olhos

E não há nem como chorar

Lembra que vai passar

Como tudo sempre passa

Não deixa a tempestade que destrói

Que corrói a alegria

Durar mais do que um instante.

Quando o pensamente embaralha

E nos joga dentro de um labirinto

É hora de acalmar a ansiedade

Que busca qualquer saída

Para restabelecer a ordem

Mas é no meio desta desordem

Que o coração se alinha.

Quando a gente acha que é o fim

Pois a gente sempre acha que sim

Quando a dor nos dilacera

Nos coloca contra a parede

É justamente nesta hora

No respirar, na calma

Que o medo vai perdendo força

E aos poucos

Ainda entre soluços que escapam

Passo a passo, sem pressa

A coragem novamente desperta

E nos joga de volta à vida

Sem pensar na dor, nas perdas

Sem medo de nada

Pronto para mais uma aventura.


A vida é para celebrar!

dezembro 15, 2023

Às vezes achamos que não vai dar

Os caminhos estão cheios de pedras

Falta até fôlego para respirar

Queremos desistir de viver

Clamamos aos céus

E nos entristecemos

E nos culpamos

E nos punimos

E discutimos

Brigamos

Choramos

Mas, é preciso de Fé

Não sabemos quando esta vida termina

Até quando ficaremos por aqui

Problemas fazem parte

Não podemos nos entregar

É preciso tomar fôlego para respirar

E nunca pensar em desistir

Erguer as mãos aos céus

E rezar

E agradecer

E se alegrar

Rir

Comemorar

Pois a vida é feita para celebrar!


Tempos de Agradecer

dezembro 17, 2021

Às vezes, brigamos com Deus porque as coisas saem fora do nosso controle, mas nada está fora de controle, nunca, nós é que idealizamos fortalezas indestrutíveis e achamos que veremos tudo ruir ao sinal de uma ou outra fissura, na verdade, nós não duvidamos de Deus, duvidamos da nossa Fé, temos medo do sofrimento, pois sofrer sempre dói, mas só através do sofrimento é que somos capazes de ver a vida de uma forma diferente.

Temos vivido tempos muito duros, tempos de dor e de sofrimento, mas no meio de tanta turbulência, é possível encontrar momentos e situações que acalmam a alma e nos mostram que cada passo dado, ainda que com pedras e  espinhos pelo caminho, valeu muito à pena. É preciso abrir os olhos para enxergar as coisas boas que nos acontece em meio ao temporal, sempre tem um raio de sol brilhando que nos dá a certeza de dias melhores.

A vida é cíclica, mas só queremos que os ciclos sejam de felicidades, não sabemos lidar com o ciclos de dificuldades, mas são justamente nos ciclos difíceis que construímos o caminho para alcançar a felicidade, que, na verdade, são gotículas que caem sobre as nossas vidas, de quando em quando, não há vida plena de felicidade, por isso, cada momento feliz deve ser de êxtase e agradecimento.

Eu tenho muito a agradecer, pois esse ano, mesmo em meio a temporais, fui banhado, várias vezes, por gotículas de felicidade, que me deram a certeza de que tudo o que eu fiz, ainda que não esteja do jeito que eu imaginei, foi o melhor que eu podia ter feito com o que eu tinha nas mãos. A gente não pode ter tudo, a gente tem que estar feliz com o que tem, eu fui! Realmente seria muito injusto com Deus, se reclamasse de alguma coisa.

No meu ano não me faltou trabalho, nem saúde, a família esteve bem, na medida do possível e as sementes que plantei durante os meus quinze anos de Dramaturgia, frutificaram uma penca enorme de carinho, que fizeram os meus dias muito felizes. Por isso, nesse período em que a gente sempre faz um balanço do que vivemos, queria pedir perdão a Deus por brigar com eles nos momentos difíceis e dizer, com toda a certeza que só tem uma palavra a dizer neste ano: Gratidão!

E a todos vocês que tiraram os meus textos do papel e deram vida a todos os personagens que criei, fica aqui, meu muito obrigado! Saibam que cada um de vocês, foi uma gotícula de felicidade que me banhou em meio a todo esse temporal que estamos passando e que Deus, possa abençoar a vida de cada um de vocês, pois essa é a única forma que encontrei de pagar toda a felicidade que vocês me proporcionaram.


É preciso viver

outubro 9, 2020

Não é nada fácil acordar toda manhã de uma noite mal dormida por ter ficado a noite toda remoendo os problemas da vida, mas não há de ser assim, não pode ser assim, não podemos deixar que os nossos problemas façam que o nosso pensamento fique nos torturando diuturnamente, como se isso fosse a única coisa importante que temos a fazer, não podemos nos render a essa resignação, pois nenhum problema pode ser maior do que viver.

É claro que não é nada simples, não é como desligar uma chave e pronto, esqueci dos meus problemas! Mas temos a obrigação com nós mesmos, de não nos tornarmos refém dos problemas que a vida nos apresenta, de nada vai adiantar adoecer, muito mesmo querer fugir da realidade, só que se tornar um escravo dos problemas também não nos é nada saudável, precisamos ter coragem para enfrentá-los e seguir em frente, vivendo.

A vida é uma só e ela é muito maior do que todos os problemas que temos de enfrentar, não podemos deixar que os problemas nos ceguem, ao ponto, de não conseguirmos mais enxergar as coisas boas, os momentos de felicidade, as pequenas vitórias, a felicidade está em cada momento de alegria e não no final, após vencermos todos os nossos problemas, pois não os venceremos, a cada dia sempre haverá um novo problema a enfrentar.

De nada vale ficarmos doente, cairmos em desespero, achar que a vida não presta, ou que os problemas nos fazem infelizes, a vida é dura, mas nada está errado, está acontecendo tudo o que tinha que acontecer. É certo que nem todos têm esse entendimento de que viver é um aprendizado constante, mas é, e, enquanto não encararmos tudo como parte de um aprendizado de vida, os nossos problemas nos massacrarão.

É bem certo que tem hora que o desespero nos pega distraído e caímos na armadilha de tornarmos os nossos problemas o centro de atenção das nossas vidas, realmente não é fácil, às vezes, o cansaço nos pega, a desesperança se instala, chegamos até a duvidar da fé por dias melhores e fica muito complicado conviver com a pressão que todos os problemas nos causam, mas o que nos salvará é o nosso equilíbrio, é a nossa razão.

A luta é diária, por isso, é preciso viver um dia de cada vez e buscar, diariamente, formas para resolvermos cada um de nossos problemas, até porque, não se resolve tudo da noite para o dia, ainda que isso seja o nosso maior sonho. Portanto é preciso viver com a certeza de que a vida é feita de ciclos e que nenhum problema é eterno, precisamos sim, ter coragem para enfrentá-los, mas nunca se esquecer da felicidade que é estar vivo.


Ai de quem não tem Fé!

setembro 4, 2020

A vida é um mistério que não conhecemos, mas viver nunca é navegar em um mar de tranquilidade por todo tempo, às vezes, a vida se junta ao tempo e nos coloca diante de armadilhas que nós próprios criamos sem perceber e, então, parece que viver fica ainda mais difícil e é nessa hora em que o barco balança no meio de uma tempestade, que a Fé nos serve de âncora para enfrentar, com coragem, po temporal que parece querer afundar nosso barco.

Nunca é fácil passar por uma tempestade no mar da vida, mas, quantas tempestades já não enfrentamos no decorrer da vida? E parece que, quanto mais esbravejamos contra os temporais da vida, mas a vida faz o nosso barco enfrentar as tempestades e nessa hora, se somos tomados pelo desespero, a emoção toma o leme do nosso barco e as consequências, invariavelmente, são bem piores, por isso, a Fé serve de luz à nossa razão.

Às vezes, fazemos uma tempestade em um copo d’água e achamos que certos problemas são incapazes de serem resolvidos e conjecturamos sobre possibilidades que podem acontecer, e logo já pensamos no fim de tudo com o pior resultado possível, até mesmo antes que o problema aconteça de fato, mas somos assim, vivemos fugindo dos problemas que criamos e eles vivem nos seguindo, não tem jeito, são para essas horas que precisamos da Fé.

Porque se acreditamos que a vida é realmente um aprendizado contínuo e que cada problema que temos de enfrentar é uma lição a aprender e que quando não aprendemos, ela sempre se repete, por que achamos que um problema é o fim de tudo? Quantos problemas já não enfrentamos pela vida? Muitas vezes nos falta a maturidade suficiente para enfrentar certas situações, mas fugir ou achar que tudo está perdido nunca será a solução, é preciso ter a cabeça no lugar e fé no que virá.

É certo que muitos podem dizer que palavras são boas para se enfrentar os problemas da vida, mas na vida as coisas são diferentes, quando se está encurralado diante de uma situação limite, que parece não ter solução, não há como não se desesperar e achar que tudo realmente está perdido, isso é verdade, não tem como não se desesperar, a emoção toma a frente de imediato e sempre pensamos no pior, mas quem tem fé, tem certeza que tudo passará, pois tudo sempre passa.

Pode ser que tudo não sai do jeito que se espera, pode ser que nada seja mais como antes, que deixe cicatrizes, mas, a verdade, é que os problemas que enfrentamos são para nos tirar da nossa zona de conforto e seguirmos em frente com a nossa vida, buscando sempre a felicidade com coragem e tentando sempre acertar cada vez mais, só que sabemos todos que viver não é nada fácil, mas, ai de quem não tem Fé!


Dia de Sol

outubro 25, 2019

A vida da gente é feito a natureza

Às vezes é rio descendo em correnteza

Às vezes é uma avalanche

Tem dias de mar revolto

Tem dias de tempestades

É nessa hora que se faz coragem

Para entender a viagem da vida

Às vezes ela não é bonita

Às vezes ela assusta demais

Tem dias de fim de mundo

Tem dias de desespero

É nessa hora que se faz esperança

Para acreditar que existe amanhã

Às vezes é um labirinto sem saída

Às vezes se duvida até da sorte

Tem dias de falta de fé

Tem dias de entregar os pontos

Mas a vida da gente é feito natureza

Depois de tantos dias de chuva

Ela nos traz a surpresa de um dia de Sol


abril 19, 2019

Fé não se toca

Só se sente

É algo intangível

Que faz o impossível

Acontecer

 

Fé não se explica

Só se tem

É algo invisível

Que faz o difícil

Se tornar real

 

Fé não é religião

Só se crê

É algo imensurável

Que se faz palpável

Mas não se vê

 

Fé não é escapismo

Só um caminho

É apenas companhia

Que faz o dia a dia

Ser mais leve

 

Fé é a esperança

Que tudo dê certo

Ainda que o incerto

Seja a única certeza

Que se tem

 

Fé é o amanhã

Que se espera viver

O abraço, o beijo

O poder continuar

É o que vem

 

Fé é a coragem

Que espanta o medo

Acalma a alma

E até na tempestade

A certeza do bem

 

Fé não se julga

Cada um tem a sua

Ainda que uns a neguem

A Fé se faz presente

Porque Fé só se sente.


Não há santos na Terra de pecadores

dezembro 14, 2018

Somos todos pecadores, embora não nos acanhamos de colocar o dedo em riste para apontar os pecados do outro. Todo mundo quer se colocar de santo, mas não há que consiga esconder os seus pecados, sempre haverá uma situação em que os pecados de cada um estarão visíveis aos olhos do outro, até porque, a retidão do ser humano termina no exato momento em que algo lhe beneficie, mesmo que isso lhe custe pecar.

Pecamos a toda hora e a todo o momento, quando não em atos, pecamos em pensamentos, mas nos achamos os purificados, enviados de Deus para salvar almas desgarradas. Somos todos desgarrados, não somos ovelhas em busca de pastores, até porque os que se dizem pastores são os que mais pecam, pois usam o nome de Deus para iludir a inocência de quem sabe que está em pecado e busca a salvação.

E os maiores pegadores não estão entre os cidadãos comuns, estão na religião, homens em que o pecado da ganância lhe cega os olhos, vendem a salvação quando nem eles têm condições de alcançá-la. Penso serem esses os maiores pecadores, pois não estão preocupados na purificação de ninguém, se vestem de santos para poderem esconder os seus próprios pecados. Não aprenderam nada do que é fazer o bem e sim em enganar muito bem.

Somos todos pecadores, a diferença é que estes homens da religião são os maiores pecadores, embora se julguem santos, pois ludibriam a fé do outro com promessas infundadas. Mas cada um de nós tem o seu pecado, afinal, para quem acredita que estamos por aqui para aprender e corrigir erros e atos de vidas passadas, o pecado é apenas um sinal que ainda temos algo para aprender, pois se já fossemos santos, estaríamos em um altar, sendo cultuados por nossa benemerência e retidão.

Pecamos a toda hora e a todo o momento, quando apontamos os pecados dos outros e não olhamos os nossos, pecamos pela nossa arrogância de nos acharmos superiores ao outro, pecamos pela nossa ira diária que quer fuzilar o outro, ainda que seja com o olhar, pecamos pela nossa luxúria, pela nossa cobiça, pela nossa preguiça, pela nossa avareza, pela nossa gula, pelo nosso egoísmo de achar que o pecado está no outro e não em nós, pecamos sim.

E vamos continuar todos pecando, os piores pecadores, pegam em nome de Deus e os outros mortais, pecam porque ninguém que está por aqui nesta vida, é santo. Então, não devemos nos preocupar tanto com o pecado do outro, devemos sim, nos preocupar com os nossos, cada um é que deve, todo dia, buscar a remissão de seus pecados para ser um ser humano melhor, afinal de contas, não há santos na Terra de pecadores.


O FILHO DE IEMANJÁ

novembro 2, 2018

ROTEIRO DE CURTA-METRAGEM

O FILHO DE IEMANJÁ

AUTOR

PAULO SACALDASSY

PERSONAGENS

VADÃO

CREUZA

PAI JOAQUIM

XERECO

SACA-ROLHA

HOMEM 1

HOMEM 2

FIGURANTES

DONO DA BIROSCA

SEGURANÇA 1

SEGURANÇA 2

NAMORADA DE SACA-ROLHA

SEQ.1 – RUA EM FRENTE UMA PENITENCIÁRIA – EXTERIOR – DIA.

CAI UMA CHUVA FINA. NA RUA EM FRENTE À PORTA DA PENITENCIÁRIA, CREUZA AGUARDA A SAÍDA DE VADÃO.

CRÉDITOS INICIAIS AO SOM DE UM PONTO PARA IEMANJÁ.

SEQ 2 – SAÍDA DA PENITENCIÁRIA – INT/EXT – DIA.

VADÃO SAI SEM OLHAR PARA TRÁS, TRAZ NA MÃO UMA PEQUENA SACOLA. CREUZA CORRE E O ABRAÇA.

VADÃO

         Vida nova!… Vida nova!

SEQ 3 – BOTECO DA FAVELA – INT/EXT – DIA.

NA FRENTE DA BIROSCA, UMA MESINHA DE FERRO COM QUATRO CADEIRAS ENFERRUJADAS. UMA MESA DE SINUCA ATRAVESSA À FRENTE, ATRAPALHANDO A PASSAGEM. DOIS HOMENS JOGAM SINUCA ENQUANTO BEBEM CERVEJA. NO CHÃO, AO LADO DA MESA DE SINUCA, MUITAS GARRAFAS. VADÃO CHEGA E SE SENTA EM UMA DAS CADEIRAS.

VADÃO

         Ai, chefe… uma cerva bem gelada!

HOMEM 1

         Fala, Vadão!

HOMEM 2

         Saiu de vez da gaiola?

VADÃO

         É! E agora vou viver uma vida nova! Quatro anos naquele inferno, não quero mais pra mim, não, xará!

O DONO DE BAR TRAZ A CERVEJA. VADÃO SE SERVE E VIRA O COPO NUM GOLE SÓ.

HOMEM 1

         Que tu vai fazer da vida agora?

HOMEM 2

         Aqui fora, emprego ta foda…

VADÃO

         Quero patrão, não! To pensando em abrir um negócio! To pensando numa parada aí. Só ta me faltando o capital. Mas isso eu vou dar um jeito.

HOMEM 1

         Fala com o Xereco, quem sabe ele não te faz um em-préstimo!

HOMEM 2

         Afinal de contas, tu é do conceito, não é mesmo?

VADÃO

         Agora to limpo e não quero mais nada com o Xereco. Desse negócio, to fora.

VADÃO VIRA O COPO DE UMA VEZ SÓ E SAI. OS HOMENS CONTINUAM O JOGO.

SEQ 4 – SALA DA CASA DE VADÃO – INTERIOR – DIA.

NUMA SALA APERTADA, DOIS PEQUENOS SOFÁS COBERTOS COM UMA CAPA COLORIDA, UMA TELEVISÃO DE 29’ E UM APARELHO DE SOM, COMPLETAM O CENÁRIO. NO SOFÁ, VADÃO ESTÁ PENSATIVO. CHEGA CREUZA.

CREUZA

         Que foi, Vadão? Aconteceu alguma coisa?

VADÃO

         Não consigo levantar a grana pra abrir o negócio!

CREUZA

         Amanhã vou falar com minha irmã. Vou ver se ela tem algum pra ajudar a gente.

VADÃO

         É melhor deixar tua irmã de fora. To sabendo que ela encheu tuas idéias pra tu me largar.

CREUZA

         É fofoca desse povinho! Não tem essa com a gente, não! Tu sabe que eu to contigo.

VADÃO

         To pensando pedir uma grana emprestada pro Xereco.

CREUZA

         Tu acha que ele vai te emprestar? Duvido! Tudo mundo fala que ele ta contigo atravessado…

VADÃO

         Puxei quatro anos pra livrar a cara dele. Não tem essa, não!

CREUZA

         Vamo lá no Centro do Pai Joaquim. Quem sabe tua mãe Iemanjá não te dá uma luz?

VADÃO

         Acho que tu ta certa, neguinha! É isso aí! To em falta com a minha mãe. Quem sabe ela não me ajuda, não é mesm? Só que antes vou levar um lero com o Xereco.

CREUZA

         Cuidado, Vadão! Não confio nesse cara!

VADÃO

         Vou levar um lero na amizade, só pra ver se dá pé!

SEQ 6 – CASA DE XERECO – INTERIOR – DIA.

NA FRENTE DA CASA, DOIS HOMENS ARMADOS FAZEM A VIGILÂNCIA. VADÃO BATE NA PORTA. UM DOS HOMENS A ABRE. XERECO ESTÁ SENTADO EM UMA POLTRONA. NA SALA UM SOFÁ RASGADO E ALGUMAS CAIXAS EMPILHADAS. VADÃO ENTRA.

XERECO

         Pensei que tu não ia vim visitar o teu camarada!

XERECO FAZ GESTOS PARA OS DOIS HOMENS, QUE SAEM E FECHAM A PORTA.

XERECO

Senta aí!

VADÃO

         A Nega me falou que tu tava bolado comigo!

XERECO

         Tenho que corta a língua dessas fofoqueiras todas! E aí, tá na ativa de novo?

VADÃO

         To fora, Xereco. Não quero mais aquele inferno pra mim, não! To afim de montar um negócio e levar uma vida nova.

XERECO

         Ta certo! É direito teu! Como tu é meu chapa, vou te liberar pra tu tocar tua vida de homem de bem.

VADÃO

         Caralho!… Tu me tira um peso na consciência…

XERECO

         Tu é sangue bom, meu chapa. É do conceito!

VADÃO

         Já que tu me deu esse conceito, queria te pedir um favor.

XERECO

         Qual é o teu problema?

VADÃO

         To precisando de um capital pra montar meu negócio.

XERECO

         Tá na mão!

VADÃO

         Tá brincando?…

XERECO

         Só que vou te pedir pra tu quebra uma aqui meu teu camarada.

VADÃO

         Manda aí!

XERECO

         Preciso que tu acabe com o Saca-Rolha. Se tu fizer isso pra mim, a grana é tua. Nem precisa nem me devolver!.

VADÃO

         To fora, Xereco… Não vai dar…

XERECO

         Tu vai pra casa e pensa, depois tu me avisa!

VADÃO

         Não vai dá!… Não vai dá!…

XERECO

         Vai e pensa melhor… Sei que tu vai fazer a coisa certa!

SEQ 7 – CENTRO ESPÍRITA – INTERIOR – NOITE.

NO CONGA, O BABALORIXÁ PAI JOAQUIM JOGA BÚZIOS PARA VADÃO E CREUZA.

VADÃO

         Preciso saber se Iemanjá pode me ajudar!

PAI JOAQUIM

(CONSULTANDO OS BUZIOS)

         Olha, meu filho, Iemanjá ta zangado com vos mi cê.

VADÃO

         É que eu tava preso! Saí faz dois dias. E to precisando de um conselho. To precisando montar um negócio, só que pra arrumar o dinheiro, tenho que fazer um trabalho aí… Queria pedir a proteção de Iemanjá pra tudo sair bem.

PAI JOAQUIM

(CONSULTANDO OS BÚZIOS)

         Vos micê tem que deixar o passado no passado. Pensá na vida nova!

VADÃO

         Pra pensar em vida nova, preciso fazer uma parada.

PAI JOAQUIM

(CONSULTANDO OS BÚZIOS)

         Fio não acredita em Iemanjá? Espera que ela mostra o caminho pra vos micê.

VADÃO

         Acredita, eu acredito… Mas, não posso perder essa chance, por isso, vim pedi proteção a minha mãe.

PAI JOAQUIM

         Então fio faz o que o coração mandá!

CENA 8 – PRAIA – EXTERIOR – DIA.

NA AREIA, VADÃO E CREUZA ESTÃO SENTADOS TOMANDO SOL. AOS POUCOS METROS, SACA-ROLHA E A NAMORADA CURTEM O MAIOR LOVE.

VADÃO

         Tava precisando tirar o mofo.

CREUZA

         Adorei você me trazer pra praia.

VADÃO

         E daqui pra frente todo fim de semana vai ser assim, Neguinha!

SACA-ROLHA ENTRA NA ÁGUA. VADÃO O SEGUE COM O OLHAR.

VADÃO

         Vou dar um mergulho, Neguinha.

NO MAR, SACA-ROLHA FAZ “JACARÉ” NA ONDA. VADÃO SE APROXIMA.

VADÃO

         E aí, Saca-Rolha, tudo na paz?

SACA-ROLHA

         Até que enfim saiu da gaiola, heim, Vadão?

VADÃO

         Saí pra te mandar pro inferno.

VADÃO PUXA UM CANIVETE DO SHORT E ACERTA SACA-ROLHA. QUANDO VADÃO VEM SAINDO DA ÁGUA, UM TIRO LHE ACERTA O PEITO. VADÃO CAI NA ÁGUA E É LEVADO PARA O FUNDO DO MAR. CREUZA CORRE E ENTRA NO MAR CHAMADO POR VADÃO. SACA-ROLHA SAI D’ÁGUA SEGURANDO A BARRIGA SANGRANDO. CREUZA PÁRA E VÊ O CORPO DE VADÃO SE AFASTANDO PARA O FUNDO. NO CALÇADÃO, UM HOMEM GUARDA A ARMA E SAI EM DISPARADA EM UMA BICICLETA. 

AO SOM DO MESMO PONTO PARA IEMANJÁ DO INÍCIO, A CÂMERA VAI SE AFASTANDO E PASSAM OS CRÉDITOS FINAIS.

– FIM –

 

 


Fé e ressurreição

março 30, 2013

Fé é a força de acreditar que o impossível pode acontecer e isso independe de religião, transcende a dogmas e preceitos. Fé é algo muito particular, algo que pode até fazer que aconteça uma ressurreição.                     

Quem via aquele menino perambulando pelas ruas, mal sabia o que aquele coração ainda iria enfrentar na vida e o que já havia enfrentado em tão pouca existência. Ele já andava pelas ruas daquele bairro há quase um ano, ainda me lembro do dia em que o vi chegando na companhia de seu fiel escudeiro, um cão vira-latas sarnento, que possuía um dos latidos mais estridentes que já ouvira. Olhar triste, roupas rasgadas, tinha alguns hematomas pelo corpo, não sabia se havia caído ou se havia apanhado.

Era final de um Domingo de Páscoa, chovia uma fina garoa e a noite já se anunciava, então o menino tirou de dentro de sua mochila surrada, um cobertor desbotado, um pedaço de papelão que ele caprichosamente desdobrou e estendeu sobre o chão, embaixo da marquise do açougue que ficava ao lado do restaurante. Deitou-se sobre o papelão, esperou que seu amigo deita-se ao se lado e, ainda de dentro do carro, pude ver quando ele estendeu o velho cobertor sobre os dois.

Dei a partida no carro ainda com aquela imagem na retina, os pensamentos fervilhavam um misto de pena e de arrependimento por não ter tomado nenhum atitude contra aquela cena. Senti-me contaminado pelo individualismo que assola nossa sociedade. Não tirava os olhos do retrovisor, mas o falatório das crianças dentro do carro acabou por desviar a minha atenção e, em poucos minutos, já mal me lembrava daquela cena.

Eu frequentava aquele bairro quase todos os dias, pois almoçavam quase sempre naquele restaurante e, da janela, sempre via o menino, já habituado com o lugar, sorridente a dividir com o seu amigo, o pouco de comida que ganhava. Existia entre os dois uma cumplicidade inexplicável, algo que o ser humano não seria capaz de compartilhar e confesso, era de causar inveja.

Com o tempo ganhei coragem e comecei a me aproximar do menino após os almoços, queria saber mais sobre aquele menino que não devia ter mais de dez anos. Puxei assunto com ele e ele, perspicaz e inteligente, sempre tinha uma tirada engraçada para as perguntas que eu lhe fazia. Mas era só tocar no assunto família, que o menino assobiava para o seu cachorro e os dois partiam em disparada por entre os carros que passavam apressados pela avenida.

Foi difícil reconquistar a confiança do menino, pois foram tantas perguntas que lhe fiz sobre sua família e o porquê dele estar nas ruas, que ele se zangou comigo e não atendia nem mais aos meus acenos. Nem bem eu estacionava o meu carro na rua em frente ao restaurante, que ele assobiava para o seu amigo, que mais do que depressa o obedecia e os dois, então, saiam em disparada, cortando as ruas do bairro.

O dono do açougue vendo a minha preocupação com o menino, veio me dizer que andava possesso com aquele infante e seu maldito animal, pois já não aguentava mais ver a frente do seu estabelecimento numa sujeira só, além dos latidos ensurdecedores do maldito cão, que acabavam sempre espantando a sua freguesia. Tentei contemporizar, visto que se tratava de uma criança abandonada a própria sorte, mas o açougueiro tinha ira no olhar.

A última vez que vi o menino por perto, foi no Natal daquele ano. Fui até ele e lhe entreguei um presente, queria reconquistar a confiança dele e, tolo, achei que o compraria com um simples presente. Ainda esperava dele, um abraço afetuoso. O menino pegou o embrulho, enfiou dentro de sua mochila, agradeceu com o olhar e saiu em seguida na companhia de seu amigo.

Depois daquele dia, não mais o avistei pelas ruas do bairro, fiquei ainda mais preocupado e voltei a perguntar do menino ao açougueiro, mas ele, com uma ira ainda maior nos olhos, me disse que tanto o maldito menino, quanto o maldito animal, ainda estavam a sujar a frente do seu estabelecimento e a espantar a sua freguesia. Dei um riso de alívio e senti que o açougueiro não gostou da minha reação.

Pensei comigo: – Por que será que o menino preferiu me evitar? – O que eu teria dito à ele que o perturbou tanto? Não conseguia enxergar que talvez pudesse ser o simples fato dele não querer se apegar a mim. Mas o que fazer se eu já estava apegado à ele?

Na semana santa do ano seguinte, fui almoçar no restaurante, ainda na esperança de encontrar o menino por lá. Armei uma estratégia diferente, fui sem o meu carro e em um dia diferente que eu costumava aparecer por lá. Queria não chamar a atenção, mas vi quando ele, escondido atrás do poste, só me observa. Aliviado, almocei tranquilamente, buscando uma estratégia para me aproximar dele novamente, mas quando saí, não mais o avistei.

Como fazia todos os anos, voltei ao restaurante no Domingo de Páscoa com a minha família, ainda tinha esperança de conseguir falar outra vez com aquele menino e, assim que estacionei meu carro, avistei o menino chorando, ajoelhado na calçada do açougue. Enquanto minha família entrou no restaurante, corri até lá para ver o que estava acontecendo e vi que seu velho amigo cão, gemia de dor. Ele olhou dentro dos meus olhos e me disse:

– Me ajuda, moço! Meu amigo tá morrendo!

O que eu podia fazer? Eu nada sabia de cães. Estava perplexo ao ver o animal imóvel diante do menino que gritava:

– O açougueiro envenenou meu amigo!

Custei a acreditar que o açougueiro fosse capaz de deixar aquela ira no olhar, se derramar sobre a pobre criança. Não seria cabível que um ser humano pudesse causar mais sofrimento à uma criança já tão sofrida. Mas, o quê fazer? Pensei em levá-lo a um veterinário, mas como tirar aquele menino entrelaçado ao seu cão já quase desfalecido?

Estava atordoado ao ver aquela cena, era muito sofrimento nos olhos e no coração daquele menino. Então, olhei aos céus e pedi uma luz, algo que iluminasse os meus pensamentos. Não era dado as religiões, portanto, nem sabia rezar, mas precisava fazer alguma coisa.

Foi então que me lembra que aquele era um Domingo de Páscoa, dia em que os cristãos comemoram a ressurreição do seu Salvador. Não tive dúvidas, ajoelhei-me em frente ao cachorro e pedi com toda a fé que eu nem sabia que tinha. No restaurante, minha família, sem entender nada, acenava me chamando, mas eu precisava ajudar aquele menino.

O menino me vendo ajoelhado, soltou o seu cão e se ajoelhou ao meu lado e começou a rezar. Ele sabia rezar e sabia a força da fé e da oração, por certo, pensei, conhecia a tradição cristã. E nós dois ali, ajoelhados em frente ao animal, pedindo, pedindo e pedindo, e, de repente, o cachorro começou a tossir e, tossiu tanto que vomitou e emporcalhou toda a calçada do açougueiro. Depois, ele se levantou e começou a lamber o menino que o beijava de felicidade.

Eu senti que não tinha o direito de participar daquele momento e parti em direção do restaurante onde minha família já me esperava impaciente. Ainda na porta do restaurante, parei quando o menino me chamou:

– Ei moço! Muito obrigado!

Eu acenei pra ele, que nem imaginava o quanto aquilo tudo tinha me feito bem. Foi aí que ele emendou uma pergunta?

– Moço, posso lhe pedi uma coisa?

– Claro que sim!

– O moço podia me dar um ovo de páscoa?

De imediato sai em direção ao meu carro, pois tinha uma surpresa guardada para ele, tinha certeza que naquele dia eu iria o reencontrar. Voltei com o ovo de páscoa na minha mão e lhe entreguei. Enfim, tinha o reconquistado, pois ele me abraçou com tanta gratidão, que o meu coração mal cabia no peito. Só que antes mesmo que eu acostumasse com o calor daquele abraço, o menino se desvencilhou de mim, chamou o seu amigo e os dois saíram em disparadas por entre os carros da avenida.

Aquele havia sido um verdadeiro Domingo de Páscoa. Entrei no restaurante com duas certezas, uma, que a fé é capaz de tudo e a outra, que iria adotar aquele menino.

Eu nunca conheci os protagonistas desta história, não sei nem dizer se ela é real ou se é inventada, mas a mensagem que ela me trouxe foi a certeza de que a ressurreição é uma questão de fé e fé, independente de religião.