João está na idade dos porquês e tudo quer saber, seu pai, atrapalhado com os seus afazeres e correndo sempre atrás de dinheiro para pagar os boletos das contas que chegam todos os dias, nunca tem tempo de responder às perguntas de João.
Outro dia, seu pai, estava muito estressado procurando sua agenda com as contas a pagar.
– João, você viu a minha agenda com os boletos?
– Pai, o que é agenda?
– Aquele livro que tem datas
– E que é boleto?
– Você viu, ou não viu?
– A agenda ou o boleto?
Irritado com as perguntas que João lhe fazia sem parar, seu pai, lhe deu uma enorme bronca.
– João, não me enche que eu estou cheio de boletos para pagar. Vá para o seu quarto, agora!
Triste com a bronca de seu pai, João foi para o seu quarto e se enfiou dentro de seu baú de brinquedos. Depois de tanto chorar, João acabou adormecendo e, quando acordou, se viu em um lugar diferente.
– Dá licença! Dá licença que eu preciso trabalhar
– Ei, não fique aí parado, não. Senão…
– Senão o quê?
– Senão o seu Boleto chega e você vai estar perdido.
João não acreditava no que estava ouvindo, se não bastasse seu pai reclamando, agora todos estão reclamando.
– Preciso resolver isso de alguma maneira.
João percorreu aquele País inteiro e todo mundo que ele encontrava estava atrapalhado com as contas correndo atrás de pagar os seus boletos.
– Que País é esse? Será que meu pai vem aqui todo dia? Porque toda vez que ele chega em nossa casa, não quer nem brincar e nem responder as minhas perguntas. Só fala: Tenho que pagar o boleto! Tenho que pagar o boleto!
João perguntava onde podia encontrar esse tal de boleto, mas ninguém sabia ao certo. Desiludido por não conseguir encontrar o tal boleto, João resolveu procurar o caminho de casa, foi quando, de repente, tropeçou em uma agenda cheia de papel, um em cada dia.
– O que será isso? Será que é isso que o meu pai estava procurando?
De repente os boletos saem de dentro da agenda e começam a circular João. João fica preso em círculo formado por boletos.
– Conta de água!
– Conta de luz!
– Conta de Telefone!
– Escola!
– Mercado!
– Farmácia!
João ficou nervoso!
– Chega! Eu odeio vocês! É por causa de vocês que meu pai não quer saber de brincar comigo e nem de responder as minhas perguntas.
– Tem que pagar!
– Tem que pagar!
– Tem que pagar!
– Tem que pagar!
– Tem que pagar!
– Tem que pagar!
João então pegou um por um e rasgou cada boleto em pequenos pedacinhos, juntou tudo e, com um ar de herói, seguiu firme para encontrar o caminho de casa. Tinha certeza que daquele dia em diante, seu pai teria tempo para brincar com ele e responder suas perguntas.
Não demorou muito o seu pai entrou do quarto, havia se arrependido da bronca que dera em João.
– João, desculpe meu filho. Cadê você?
João saiu de dentro de seu baú com a agenda e os boletos todos bem picadinhos.
– Pronto, pai! Esses boletos não vão mais atrapalhar você. Rasguei todos eles!
Seu pai contou até dez, dez vezes para não comentar uma insensatez e colocou João em seu colo e lhe explicou.
– João, de nada adianta rasgar os boletos, todos os meses eles chegam.
– Como assim pai? Como eles vão nascer de novo de rasquei tudinho?
– Tudo que a gente gasta, tem um boleto pra gente pagar. Quanto mais a gente gasta, mais boleto a gente tem.
– E isso é pra sempre?
– É, filho! Quando você crescer, você também vai ter os seus boletos para pagar.
– Não vou nada!
– Vai sim, meu filho! Não tem jeito!
– Eu vou resolver isso de uma vez.
João entrou de novo dentro do baú, decidido a acabar com todos os boletos, mas, sem nada encontrar, João chorou, chorou e acabou pegando no sono, então seu pai o pegou, o colocou na cama, apagou a luz do quarto e saiu para tentar colar os pedacinhos dos boletos que João picou.