Quando Joãozinho chegou, toda a família ficou em festa, enfim, havia chegado o herdeiro daquela família que a muito já se ansiava. O avô tratou de comprar-lhe logo uma bicicleta, a avó, corujíssima, deu-lhe logo um vídeo-game de última geração. Os pais, esses então, não sabiam o quê fazer. João, o pai, não poupou dinheiro, e a mãe, Maria, tratou de decorar o quartinho do pequeno Joãozinho com o que havia de mais caro.
Joãozinho era tratado como um verdadeiro príncipe, as tias e os tios, lhe davam de tudo, nunca soube de um menino tão mimado assim. Se ele espirrava, logo vinham três de uma vez, só para acudir o pequeno Joãozinho. A impressã era que Joãzinha era de cristal e podia se quebrar a qualquer instante.
Cercado de todos os cuidados, Joãozinho, recebia carinho de todas as partes. Sempre tinha alguém preocupado com o bem estar do pequeno, que aos poucos, foi entendendo todo aquele excesso de carinho, e esperto como ele só, tratou de aproveitar às mordomias.
Tinha fome, abria o berreiro, pois sabia que não demoraria muito para tê-la saciada. Tinha sono, abria o berreiro, pois sabia que não demorava muito, teria um colo aconchegante acalantando o seu corpinho.
Joãozinho não queria saber de mais nada, tamanha era assistência que recebia dos seus. Não havia quem conseguisse fazê-lo dormir no carrinho ou no berço. À noite era uma choradeira só, um pouco no colo da mãe, um pouco no colo do pai, em um revezamento que durava a madrugada inteira.
Aquela altura, o pequeno Joãozinho já se recusava a mamar nos seios da mãe, por certo, sugar o leite já lhe dava muito trabalho para quem, já tinha tudo na mão.
Mas, sem se darem conta que, com aqueles pequenos mimos e caprichos, às manhas do pequeno Joãozinho aumentava de proporção e todos perderam conta de quanto aquele excesso de carinho estava sendo prejudicial para o desenvolvimento do pequeno.
Os primeiros meses do pequeno Joãozinho foi um encantamento só, mas também foram de muita canseira, principalmente para mãe, que mal conseguia dormir à noite, de tanto que o pequeno Joãozinho chorava, só queria saber de colo. Já havia acostumado com isso. Os pais até tentavam ser um pouco mais severos com o pequeno, mas aquele rostinho fazendo biquinho, o levavam ao chão e o quê até então parecia ser uma bronca, passava a ser um festival de beijos, abraços e fotos, que depois eram todas mostradas para toda família, que babava de felicidade.
Como dava trabalha aquele pequeno serzinho de aparência tão frágil! Mas era a maior joia que aquela família havia conquistado até então. Nada era demais, nada era suficiente, para o pequeno Joãozinho, sempre tudo e muito mais.
Os primeiros meses passaram tão rápido e lá já estava o pequeno Joãozinho, cercado de todos os cuidados, aprendendo a sentar sozinho. Era um dando palpite aqui, outro dando outro palpite ali, e no final das contas, Joãozinho acabava invariavelmente no colo de alguma avó.
– Coitado do menino! Ele é muito pequeno pra sentar sozinho.
E lá estava novamente o pequeno Joãozinho, cercado de todos os mimos e cuidados para que nada pudesse machucá-lo, que aos cinco meses, já pesava quase sete quilos.
Quando o Joãozinho deu seus primeiro passos foi uma festa só. Era foto pra lá, foto pra cá, e filma aqui, filma ali, e todos lá, o seguindo de perto, de braços abertos para que se no caso do pequeno Joãozinho se desequilibrasse, recebesse de alguém, o amparo imediato.
As primeiras palavras soavam a todos como um hino, e todos em uníssono pediam para que ele repetisse aquelas palavras ditas em forma de dialeto totalmente incompreensível, mas que para todos, soava feito música pura.
Aquela altura, o pequeno Joãozinho, sabedor de todos os mimos que recebera até então, já começava dar sinais de todo o seu poder, que jamais foi contestado por qualquer pessoa que fosse. Joãozinho podia pedir o que quisesse que era atendido de pron-to. Vez ou outro o pai retrucava:
– Assim, Joãozinho é feio!
Joãozinho abria um berreiro ensurdecedor, que parecia que estava sofrendo alguma agressão. Ele chorava um choro sentido! Sabia que viria a recompensa de colinho aconchegante, de alguém que intercederia por ele, contra aquela insensatez falada por seu pai.
É claro que não fazia por mal, aliás, amor é sempre bom de se dar e receber, mas, acontece que o pequeno Joãozinho, já havia adquirido certos hábitos, e esperto como toda criança o é, tratava de usá-los sempre que alguém não fizesse aquilo que ela desejava.
A família sempre colocava panos quentes em qualquer situação, pois Joãozinho era apenas um pequeno bebê prestes a completar um ano, precisava de muito carinho e proteção.
Mas, o quê se viu daí em diante, foi o nascimento de uma criança que cresceu sem limites e que tinha a certeza de que podia fazer todas as suas vontades que sempre haveria alguém para lhe passar a mão na cabeça e contornar a situação.