Os desafios de um autor

agosto 6, 2021

Escrever não é um processo assim tão simples como alguns acreditam ser, escrever demanda um esforço de criação, enorme, é como diz aquela velha máxima: “um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração” mas, se não bastasse todo esse esforço natural da escrita, hoje em dia um autor tem novos desafios para enfrentar, a polarização política e o politicamente correto.

Sofrendo uma patrulha de vários segmentos sociais, os autores sofrem uma pressão a mais na hora de contar suas histórias, pois precisam redobrar a atenção e apurar ao máximo a criatividade para poder driblar certas situações dramáticas de suas histórias e não causar a ira de quem está preocupado apenas em polemizar sobre qualquer assunto, ainda que a vida seja cheia dessas polêmicas que precisam ser discutidas.

Falar sobre certos assuntos em suas histórias já não é tão simples assim para os autores, há sempre um olhar político sobre as intenções do autor com a sua história e os efeitos “colaterais” que ela possa trazer ao debate social, a escrita virou assunto mais político do que literário, sempre tem alguém constando um autor, pois falar sobre certos assuntos parecem ser proibidos para alguns segmentos da sociedade.

Mas escrever é arte e, embora a arte seja um ato político, o autor não pode contar suas histórias sob o viés de um olhar político partidário, uma história precisa ser contada através de todas as suas nuances e com a independência de quem quer colocar na mesa, os problemas, os preconceitos, as mazelas e as contradições de cada ser humano, um autor não pode emprestar a sua arte para defender bandeiras políticas.

Por isso, nos dias de hoje, os desafios de um autor são muito maiores do que possa parecer, para escrever e contar suas histórias, um autor tem que ter, acima de tudo, coragem para tocar nas feridas sociais, enfrentar o politicamente correto, mostrar o lado podre de quem se acha do bem, falar de quem defende bandeiras quando estas lhes interessam e, acima de tudo, ser o espelho da sociedade.

Um autor não tem partido político, não é de esquerda, nem de direita, não defende bandeiras, um autor é apenas e tão somente, um contador de histórias, que busca através de sua literatura, desnudar a alma do ser humano, retirar as máscaras da hipocrisia e cutucar as feridas de uma sociedade doente e, muito embora alguns se sintam intimidados por segmentos sociais, um autor precisa seguir firme e independente cumprindo seu papel de contar histórias.


O CHEFE

junho 7, 2019

CENA 01 – CORRETORA DE VALORES – ESCRITÓRIO – INT.DIA

NA SALA DO ESCRITÓRIO, QUATRO MESAS FORMAM O AMBIENTE. EM UMA DAS PAREDES, QUATRO RELÓGIOS INDICANDO A HORA DE TÓQUIO, LONDRES, NOVA YORK E BRASIL, EM OUTRA, UMA TV DE LCD DEMONSTRANDO A MOVIMENTAÇÃO DA BOLSA DE VALORES. DUAS DAS MESAS ESTÃO OCUPADAS POR DOIS HOMENS ENGRAVATADOS QUE JOGAM “BANCO IMOBILIÁRIO”. UMA MULHER, PERFIL DE SECRETÁRIA EXECUTIVA, ENTRA APRESSADA E SE ENCAMINHA NA DIREÇÃO DE UM RELÓGIO DE PONTO, INSTALADO QUASE DO LADO DA PORTA QUE LEVA A UMA OUTRA SALA. ELA APANHA O SEU CARTÃO NA CHAPEIRA E O BATE.

VOZ DO RELÓGIO

Tá atrasada hoje, hein?

A MULHER DA UM TAPA NA LATERAL DO RELÓGIO DE PONTO.

SECRETÁRIA

Cala essa boca, seu fofoqueiro!

VOZ DO RELÓGIO

Ai, doeu, viu?

A SECRETÁRIA SE DIRIGE A SUA MESA. OS HOMENS PARAM DE JOGAR.

HOMEM 1

O chefe está desesperado atrás de você!

HOMEM 2

E cuidado, que hoje ele está com o diabo no corpo!

A SECRETÁRIA COLOCA SUA BOLSA SOBRE SUA CADEIRA.

SECRETÁRIA

Mas ele que não me encha, porque hoje eu tô com o Saci!

UM SACI SE APRESENTA E CUMPRIMENTA TODO MUNDO.

SACI

E aí, rapaziada? Ela tá comigo, hein?

CHEFE

(GRITANDO EM OFF)

Dona Cristina, onde a senhora se meteu!

CENA 2 – CORRETORA DE VALORES – SALA DO CHEFE – INT./DIA

ATRÁS DE UMA MESA, ONDE SE VÊ MUITOS PAPÉIS E VÁRIOS BRINQUEDOS DE MONTAR, O CHEFE, CARACTERIZADO DE DIABO, BUFA DE NERVOSO. ENTRA A SECRETÁRIA.

CHEFE

O inferno pegando fogo e a senhora me some? Onde a senhora se meteu?

 SECRETÁRIA

Eu tava na China!

A SECRETÁRIA APARECE CARACTERIZADA DE CHINESA.

SECRETÁRIA

O senhor tá me tratando como uma escrava!

MOSTRA A SECRETÁRIA DE ESCRAVA, AMARRADA EM UM TRONCO E O CHEFE A CHICOTEADO.

SECRETÁRIA

O senhor deve tá pensando que eu sou duas, três, quatro…

CADA VEZ QUE ELA VAI FALANDO, SUA IMAGEM VAI SE MULTIPLICANDO. CORTA PARA A MESA DO CHEFE. A IMAGEM MOSTRA O CHEFE JÁ EM TRAJES NORMAIS, DE TERNO, GRAVATA, CABELOS REPARTIDOS DE LADO E ÓCULOS.

CHEFE

É que não consigo viver sem a senhora! Sem a senhora pareço um náufrago solitário em uma ilha.

MOSTRA O CHEFE COMO UM NÁUFRAGO SOLITÁRIO EM UMA ILHA.

SECRETÁRIA

Então, pronto, já cheguei! O que seu tanto queria comigo?

A SECRETÁRIA SE SENTA NA CADEIRA EM FRENTE A MESA DO CHEFE.

CHEFE

É que eu preciso tanto lhe mostrar uma poesia que fiz.

O CHEFE SE LEVANTA E RECITA SUA POESIA.

CHEFE

“Essa noite tive um sonho

Queria algodão doce

Mas ele derreteu no palito

E eu fiquei chupando o dedo”

A SECRETÁRIA SE LEVANTA.

SECRETÁRIA

(EMOCIONADA)

Ai que coisa mais linda, chefe! Posso lhe dar um abraço?

O CHEFE ABRE OS BRAÇOS E A SECRETÁRIA LHE DÁ UM FORTE ABRAÇO. O CHEFE VAI APALPANDO A SECRETÁRIA, QUE O AFASTA.

SECRETÁRIA

Que isso, chefe? Isso é assédio, sabia?

CHEFE

É que fiquei emocionado. Mas, agora vamos trabalhar, porque o tempo ruge, o tempo ruge, dona Cristina!

SECRETÁRIA

Não é ruge, é urge! U-R-G-E! Ai, meu Deus, que chefe burro!

MOSTRA O CHEFE COM UM PAR DE ORELHAS DE BURRO.

– FIM –


Qual a dificuldade de se pagar direitos autorais?

agosto 5, 2016

É impressionante, mas volta e meia é preciso voltar nesse assunto. Qual a dificuldade de se pagar os direitos autorais para o autor que escreveu o texto? Realmente eu até busco entender que nem sempre o espetáculo tem fins lucrativos e, que muitas vezes é preciso que todos coloquem a mão no bolso para realizar a produção, que a vontade de levar o espetáculo aos palcos é maior que as possibilidades, mas, por que os direitos autorais não figuram como um custo para realização da produção?

Se o principal produto que fará com que o espetáculo aconteça, é o texto, no mínimo, o custo para obtenção de sua liberação deveria ser a primeira coisa a ser pensada para se começar uma produção. Como começar a produção de um espetáculo sem saber se o autor liberará o texto? Existem outros fatores que vão muito além da simples liberação do texto pelo autor, sem o pagamento dos direitos autorais. Às vezes o autor está impossibilitado de fazê-lo por ter firmado outro compromisso com quem pensou o texto como parte do processo.

Eu sei o quanto é penoso levar o Teatro até a população, muito mais para quem está longe dos grandes centros, sem possibilidades de captação de recursos, sem apoio nenhum para gerir a cultura local. Nem sempre é possível obter condições suficientes para se colocar o espetáculo em boas condições para uma apresentação digna, até por isso, não me furto, em vez e outra, liberar a utilização dos meus textos, principalmente para os grupos amadores, sem o pagamento dos meus direitos autorais.

Muitas dessas produções são estudantis, realizadas em salas de aulas e que buscam usar o meu texto como instrumento pedagógico, na formação de público e, portanto, entendo que a liberação em troca da divulgação de meu nome, seja uma maneira de contribuir para a formação desses estudantes. Mas, cada caso é um caso, e é só o autor quem decide se o texto será ou não liberado do pagamento dos direitos autorais. Por isso, não adianta fazer a produção antes de solicitar a liberação, pois pode ser que ela não aconteça.

Quem pretende trabalhar com o Teatro, produzir espetáculos, deve ter a consciência da obrigação de se remunerar o autor do texto, pois se há espaço nas planilhas de custos para o pagamento, do cenógrafo, do figurinista, do iluminador, da trilha sonora, do Teatro, por que não há espaço para os direitos autorais? Um espetáculo é um processo coletivo, em que todos tem sua função, tanto na produção, quanto na apresentação e o autor do texto precisa ser valorizado dentro de todo esse processo.

Entendo toda a dificuldade que é produzir um espetáculo de teatro e, mais ainda, gerar dele, lucro suficiente para conseguir sobreviver, mas, tal como o ator e o diretor que precisam viver do espetáculo, o autor, que despendeu dias e noites para escrever aquele texto e fazer dele o seu ganha pão, também necessita que seu trabalho seja devidamente remunerado. Portanto, quando pensar em montar um espetáculo, coloque em suas planilhas, o pagamento dos direitos autorais, porque o autor não vive só da divulgação do seu nome.


Arte em parceria

junho 17, 2016

Quando se fala em criação artística, é muito difícil, assim, em um primeiro momento, se pensar na possibilidade de que haja mais de um criador no ato de sua concepção. A criação nasce sempre de uma ideia e é através dela que o artista, manifesta suas emoções, suas impressões sobre a vida e, até, expurga os seus demônios. Mas, principalmente na música, existe a possibilidade de se dividir a criação artística, e, às vezes, com qualidade.

Embora na literatura isso pareça ser uma verdadeira loucura, diria até, impensável, em outros formatos de narrativas, como o cinema, o teatro e mesmo, as novelas, tem-se buscado afinar as criações artísticas através de outros pontos de vistas, ainda que isso esteja apenas no âmbito da escrita dos roteiros, com os pares que tenham o mesmo ofício: a escrita. A história, ainda que escrita a duas ou mais mãos, é de competência apenas do escritor.

Mas se existe tantas possibilidades de artes que permeiam a criação de um espetáculo artístico, será que não seria possível que elas estivessem interligadas desde a sua criação? Pensando no Teatro, o quanto não seria interessante um texto que surgisse do ponto de partida do dramaturgo, passasse pela visão cênica do diretor e culminasse com o ponto de vista das necessidades de interpretação do ator?

Já ouvir falar de algumas experiências nesse sentido no Teatro, o texto vai sendo escrito a partir da encenação, autor, diretor e ator escrevendo a mesma história, sem problemas de egos, pelo menos no primeiro momento. Deve ser realmente uma experiência enriquecedora. Para mim, que tenho meus textos pautados em cima de uma possibilidade, talvez, uma criação coletiva me ofereça experimentar outras tantas visões cênicas.

Acho bem enriquecedor quando podemos trocar informações sobre nossas ideias e aproveitar na história outros pontos de vistas que não enxergamos quando estamos mergulhados na escrita da história. A visão do diretor, por exemplo, é muito salutar nessas situações, pois ele enxerga o espetáculo sobre outro prisma e até vislumbra viradas cênicas escritas que certamente trarão certas dificuldades na hora da encenação.

Talvez, uma parceria dessas, estabelecida entre Autor e Diretor na concepção do texto, principalmente no Teatro, venha a contribuir para diminuir as eternas brigas entre ambos, já que na maioria dos casos o Autor não permite que se mexa na história que ele concebeu e o Diretor quer colocar em cena a história que ele imaginou quando leu o texto. E quando isso acontece, a certeza é que não teremos a história em cena.

O fato é que a arte pode sim ser feita em parceria e um espetáculo teatral ser gerado a partir da concepção artística do diretor em conjunto com o ponto de vista do dramaturgo que escreve a história, Autor e Diretor, alinhados em uma mesma linha de criação artística para criar um texto. Agora, caso isso não seja assim, como Dramaturgo, penso que o Diretor deve dar asas à sua criação artística, mas respeitar, ao máximo, a história que o Autor escreveu.


Viver da palavra

maio 8, 2012

Volta e meia vejo discussões sobre como furar o funil dos autores das novelas de televisão e são na maioria das vezes, discussões acaloradas, pedindo oportunidades, mas o funil é muito estreito e não há como não admitir, as oportunidades estão sendo dadas, questionar os critérios não me parece salutar, pois se pressupõe que os que as têm, não são capazes, só que temos visto que não é verdade, vide as novelas que estão no ar.

Talvez o grande problema dessas discussões esteja no âmago da questão: o querer escrever! Acredito que os que pleiteiam uma oportunidade para se tornarem escritores de novela, sejam pessoas que vivam da palavra, pois para quem vive da palavra, poder alcançar esse degrau é poder fazer chegar a mais pessoas, as idéias que eles só conseguem levar a uma minoria que admiram o seu trabalho.

Quem vive da palavra, a faz através da literatura, através do cinema, através do teatro e pode sim, fazer na televisão, ou não. Tornar-se um escritor de nove-la pode ser apenas um complemento para quem vive da palavra e, para muitos que vivem da palavra, chegar lá nem é projeto de vida. Quem trabalha com a escrita, precisa trabalhar com a escrita através do leque que o viver da palavra proporciona.

Para muitos que escrevem, poder participar da equipe de colaboradores de uma novela, pode ser o supra-sumo da carreira, e sei de muitos que se realizam assim e, por quê? Porque o que interessa à eles, não é ser escritor de novelas, pois isso eles já são de fato, é ter a certeza de que estão vivendo da palavra e, assim, ainda têm a oportunidade de transitarem por outras áreas da escrita, aumentando ainda mais, a satisfação pela opção de viver da palavra.

A idéia de fama e reconhecimento faz com que muitos confundam o ofício de escrever, com o “glamour” de ser autor de novelas, no ar, depois de editada, pode até parecer fácil, todo mundo sempre acaba achando um defeito aqui, outro ali, e se julga capaz de fazer diferente, de outra forma, ou até melhor, mas o fato real é que para ter a oportunidade de assinar uma novela só sua, é preciso ter mostrada que é capaz de viver da palavra.

Como no futebol, muitos talentos ficam no caminho por vários motivos que não cabe aqui enumerá-los, mas o fato é que quem pleiteia uma chance de escrever uma novela, deve se ater ao projeto de viver da palavra. Eu já fiz a minha opção, não sei se um dia terei a oportunidade de me juntar ao menos a um grupo de colaboradores de algum autor de novela, mas há tempos decidi que mudaria a minha vida para poder viver da palavra.


O preço da arte

maio 1, 2012

Quando colocamos o ponto final em uma obra artística, lançamos ao mundo o que pensamos, o que sentimos e o que vemos do mundo em que vivemos e nossa arte capturará aqueles que por ela se identificarem. Nosso valor artístico estará ali, em nosso texto, em nossa música, em nossa tela, mas como mensurar o valor do direito patrimonial em uma obra artística? Quanto vale a emoção que proporcionamos a alguém?

O pouco ou muito em uma obra artística é de fato subjetivo, pois para mim ela pode ter um valor inestimável, mas para outrem, ser apenas uma arte pífia, digna de desprezo. É realmente complicado, pois arte é uma expressão do ser humano que se propõe comover, encantar, fascinar, mas o objeto desta arte ganha forma e este material produzido tem o seu preço, caro ou barato, como saber o preço da arte?

Vender um livro, um CD, autorizar a cessão de um texto, isso até que não é difícil de se calcular, pois simples operações matemáticas nos mostrarão os custos desta produção artística e nos ajudarão a mensurar o valor dos direitos autorais que remunerarão a nossa arte, mas e o valor do patrimônio da obra que produzimos, como fica? Sim, pois a obra artística se constitui em nosso direito irrefutável e em um bem patrimonial.

Eu tenho uma dificuldade muito grande em calcular números que estipulem o valor real da minha arte. Quanto você pagaria por ela se eu as colocasse a venda? E a sua arte, por quanto você me venderia? É estranho tratar o resultado final de uma arte, como fossem paredes de tijolos que sustentam uma casa, ou peças de metais transformadas em automóvel, não é mesmo? Só que nossas obras artísticas são nossos bens e poderemos quer vendê-las, e por quanto?

Talvez o preço justo e certo da nossa arte seja estipulado pela lei da oferta e da procura, por certo não será levado em conta o valor artístico do que produzimos, mas sim o quanto nossa arte valerá comercialmente, mas acho que quanto maior o nosso valor artístico, maior a remuneração do nosso direito patrimonial. Um bem de um artista reconhecido valerá muito mais do que o de alguém que está apenas começando.

Portanto, podemos concluir que o preço da arte, passa pela soma do valor artístico do autor, mais o reconhecimento do público pela sua arte, somado ainda, a grandiosidade de sua obra, quanto maior for á soma desta operação, maior será o valor do direito patrimonial produzido pelo artista. Cada artista sabe o quanto a sua obra vale, só é preciso tratar de torná-la cada vez mais valorizada. O que hoje vale nada, amanhã poderá valer milhão, ou não!


A parceria entre autor e ator

abril 15, 2012

A arte de interpretar é acima de tudo uma arte de parceria, e quanto mais refinada for essa parceria, melhor para o espetáculo, para o filme, ou para a novela. O ator depende de um bom texto para demonstrar a sua arte de interpretação, enquanto o autor necessita de um bom ator para tirar do papel a sua história, mas não é sempre que isso acontece.

Algumas vezes vemos um texto primoroso, escrito com toda técnica, cheio de poesia, retratando uma história comovente, envolvente, mostrando de forma objetiva e de fácil identificação, as historias da vida, sendo vilipendiado por uma interpretação equivocada, tornando palavras em simples declamações decoradas sem o mínimo de emoção.

Por outro lado, também vemos muitos atores terem que se desdobrar em cena para dar vida a personagens mal escritos de textos ruins, sem conflitos, sem histórias. E por vezes, é o talento do ator, a única coisa que realmente vale a pena em cena, pois só ele é capaz de transformar com a sua interpretação o que por si só já é um fiasco, fazendo assim com que o publico esqueça a fragilidade do texto.

Um ator com um bom texto na mão é capaz de fazer coisas que deixarão marcas para sempre na memória de quem o assiste, e um bom texto dará ao ator as condições necessárias para que ele realize o seu belo trabalho. Ator e autor quando estão em sintonia e comungam do mesmo objetivo, (o de levar ao público uma boa história), presenteiam à todos, peças inesquecíveis, filmes inesquecíveis, novelas inesquecíveis.

É triste quando vemos boas histórias sendo destorcidas por conta de interpretações de fracos atores, isso é muito comum em novelas, que pede uma atuação firme e precisa dos atores, Mas, atores, muitas vezes, sem experiências, ou até mesmo sem talento, tornam palavras, frases e intenções pensadas pelo autor em algo sem sentido, sem vida e sem emoção. A palavra deve ser dita de forma correta e não simplesmente cuspida para fora.

Portanto, é certo que para que o público assista a uma boa peça de teatro, ou um bom filme, ou ainda uma boa novela, a parceria entre o autor e ator deve ser precisa. A arte da interpretação não tem espaço para maus autores e muito menos para maus atores. O que, com certeza, agradará o público, é podê-lo fazer ver em cena o reflexo límpido e claro de uma parceira perfeita entre o autor e o ator.


A personagem é quem fala

abril 8, 2011

Uma boa história começa pelos seus diálogos, pois tão importante quanto á ação dramática que se desenrolará e pela qual se contará a história, a maneira pela qual a personagem se expressará, determinará o sucesso ou fracasso da trama. Ninguém fala igual ao outro, portanto, na obra dramática, não existe espaço para que personagens entoem as suas falas de forma discursiva e professoral, a menos que seja a sua característica, pois, afinal, ninguém anda pelas ruas falando desta forma.

A maneira como a personagem fala, também faz parte de sua caracterização, e deve condizer com aquilo que vemos em cena, não é só o figurino, os trejeitos e etc e tal, as suas idéias e convicções são expressadas e levadas ao público, através de seus diálogos e, palavras mal colocadas na boca de uma personagem, além de soar falso, acaba descaracterizando-a e coloca toda a intenção de contar uma boa história em risco.

As idéias e convicções do autor, não podem e nem devem se valer de uma personagem para serem repassadas ao grande público, pelo menos não da forma que o autor pense e fale. A boa construção de uma personagem, incluindo aí, a maneira pela qual ela se expressa, é que levará ao público, tudo aquilo que o autor acredita, nada pode ser forçado. O autor não deve fazer uso de discursos panfletários e nem usar de tom professoral para passar sua mensagem, aliás, se você conhece um professor, sabe que nem ele é tão didático quando conversa com seus alunos.

A construção da personagem é o alicerce principal de uma história, pois é ela quem se comunicará com o público. O autor, quando da construção da sua personagem, precisa ouvi-la, deixar que ela se expresse da maneira que sua característica fique clara quando ela for abrir a boca para falar. Em alguns trabalhos dramáticos é possível ver de uma forma bem nítida esse problema de construção da personagem. É só você prestar atenção em alguns diálogos das novelas que estão em cartaz, que você entenderá do que estou falando. Nem o ator que interpreta a personagem, acredita naquilo que está falando, tudo soa inverossímil demais.

Não adianta nada ter uma boa história, boas seqüências de ações dramáticas, cuidar do cenário, ou da filmagem, ter uma trilha sonora bem cuidada, ter ensaiado exaustivamente seu papel, se quando a ação transcorre, a personagem fala de uma maneira que não corresponde ao seu comportamento. Há de se prestar a atenção na boca de quem se colocará cada assunto, pois nem todo personagem tem condições de falar o que o autor quer, da maneira que o autor deseja.

Dramaturgia não é assim tão simples, demanda muito trabalho de pesquisa de assuntos e comportamentos. Não basta ter uma idéia brilhante, uma vontade enorme de escrever, se não souber fazer com que a sua personagem fale por ela e não por você. O maior segredo da dramaturgia é justamente a habilidade que o autor tem para colocar os diálogos certos na boca das personagens certas, quando isso acontece, é sucesso na certa.


O encontro das artes

dezembro 10, 2010

A concepção de um espetáculo não é uma coisa nada fácil, que digam os diretores teatrais, que por vezes surtam diante de tantas possibilidades. A decisão sobre: de qual ponto de vista a história será contada, o que privilegiar em cena, como não deturpar a visão do autor e até mesmo o seu próprio devaneio artístico, são algumas das angústias que assolam os diretores no momento da concepção do espetáculo.

Todo esse turbilhão de sentimentos que toma conta do diretor, é legítimo e faz parte da explosão da criação, portanto, deve ser respeitado, seja em qual fase da concepção do espetáculo ele aconteça. A concepção do espetáculo é o momento do diretor e só ele para resolver os problemas que ele criou em sua cabeça. O autor já viveu esse momento quando da criação do texto e o ator  viverá quando da criação da sua personagem, mas, quando os três trabalham na mesmo sintonia, o resultado é quase sempre espetacular.

O encontro das artes me parece ser o maior dos desafios que um diretor enfrenta quando da concepção de um espetáculo, pois encontrar o espaço igualitário para que todas elas se sobressaiam sem que uma ofusque a outra, torna o trabalho ainda mais árduo, ainda mais quando se faz necessário a inclusão de outras artes, tais como a música e a dança. Mas a perfeição na sintonia de todas as artes faz o espetáculo sair do lugar comum.

Pode parecer muito simples quando alguém vê um espetáculo sendo apresentado, o ator em cena, com o texto decorado, um palco, uma luz aqui e ali, um figurino bonitinho, um cenário para chamar a atenção, e pronto, não precisa de mais nada. Ledo engano, um espetáculo, seja ele de teatro, de dança, de música, só ganho uniformidade pelas mãos de um diretor. É ele quem vai costurar e  tornar possível a homogeneidade do espetáculo. Ele é o responsável pelo encontro das artes

É claro que muitos diretores se acham mais importantes que o texto, que o ator e se colocam acima do bem e do mal, mas todos sabemos que, principalmente o teatro, é uma arte de grupo, e quanto maior a cumplicidade entre as partes envolvidas na montagem de um espetáculo, melhor vai ser o resultado final. Ninguém é mais importante que ninguém, o texto tem a sua importância, o ator tem a sua importância e o diretor tem a sua importância.

O sucesso de um espetáculo passa pela forma em que o diretor o concebeu, mas se torna grande artisticamente, no momento em que o diretor tem a humildade de usar o seu conhecimento em prol de unificar as artes pelo bem da arte que ele dirige, fazendo deste encontro, um momento inesquecível, tanto para quem faz, quanto para quem vê.

Eu reconheço a importância dos diretores na concepção de um espetáculo e consigo enxergar assim a grandeza que é dirigir um espetáculo. Espero que os diretores não me interpretem mal e nem torçam seus narizes pelo meu ponto de vista, pois na minha opinião, um diretor é acima de tudo, o responsável pelo encontro das artes em cena.


Esse tal do politicamente correto

novembro 11, 2010

Não sei quando isso começou, nem como e nem porque, o que me interessa é entender a razão e de quem foi a idéia de interferir deliberadamente nos rumos da criação de um escritor. Agora o escritor não tem mais a liberdade de criar, pois não pode isso, não pode aquilo, isso é prejudicial a isso, isso é prejudicial a aquilo. Tudo o que for mostrado, tem que ser de acordo com esse tal do politicamente correto.

Agora eu pergunto: Quem é politicamente correto? Será que ninguém nunca jogou papelzinho na rua pela janela do carro? Será que ninguém nunca passou o sinal vermelho, nem de madrugada? Será que ninguém mais fuma um cigarro, nem na sua casa? Será que ninguém mais fala palavrão, nem sozinho no banheiro? Será que não tem mais violência contra mulher e nem contra a criança? Nem assassinatos, assaltos, estupros e chacinas? Então por que o escritor não tem liberdade para retratar casos como esses?

Acredito que a baixa audiência das telenovelas é muito em função do reflexo do pensamento que prega a obediência à esse tal do politicamente correto. Ai eu pergunto novamente: Quem está enganando quem? Se a arte procura mostrar a realidade da vida através de histórias ficcionais, então por que não se pode mostrar o comportamento humano como de fato ele é? Ou os habitantes desta nossa República Tupiniquim são todos sujeitos acima de qualquer suspeita e cumpridores do politicamente correto? É claro que não!

Minha posição como autor é bem claro, não posso abrir mão de criar os meus personagens do jeito que eles tem de ser, sob pena de estar contribuindo para o fracasso da minha própria história. Só quem não sabe como se cria uma história, pode aceitar a interferência, mesmo que branca, desse tal politicamente correto, ainda por cima usando a desculpa que certos assuntos não podem ser tratados em certos horários por causa das crianças. Será que o pai ou mãe fumante se esconde no banheiro para que o filho menor não o veja fumando?

A vida não é cor de rosa e a formação do caráter de um ser humano passa por vitórias e derrotas, sucessos e fracassos, ilusões e desilusões, felicidades e tristezas e pelo que lhe faz bem e o que lhe faz mal. A mistura de todas essas experiências é que possibilita a formação de um cidadão conhecedor do que lhe serve ou não, mesmo porque, ninguém é obrigado a ser politicamente correto, cada qual é como é, por isso existe o livre arbítrio.

Muito da criação dos autores vem sofrendo prejuízos por conta desse tal do politicamente correto, pois muitos personagens sofrem cortes em suas características, comportamental e psicológica, por conta de não poder agir e pensar de acordo com o seu comportamento. Coisas que outrora eram naturais, visto se tratarem de características de um personagem, personagem estes que reflete as atitudes de um ser humano normal, hoje soam como ofensivas.

Querer culpar a falta de criatividade do autor por conta de insucessos nas suas histórias, entendo ser a maior injustiça que se comete hoje em dia. No meu ponto de vista, o maior culpado disso tudo, é esse tal de politicamente correto.