A Sereia do Rio


Quando eu me lembro dessa história, fico toda arrepiada, foi a primeira vez que eu senti medo de verdade. O que era para ser uma grande aventura, acabou sendo um grande susto. Vou contar tudo pra vocês.

Não sei se vocês se lembram do meu primo, o João e o Antônio! Aqueles que são donos do Chicão. Que moram lá no interior! Então, foi por causa deles e com um deles, que quase acontece a maior desgraceira!

Nas últimas férias, fui passar uns dias na casa deles e saímos para andar pelas matas perto do sítio deles. Eu não queria, mesmo porque dá última vez que fui à floresta com eles, dei de cara com o Saci, depois com o Curupira. Nem imaginava o que eu ia encontrar por lá.

– E aí, Helena, vamos caçar Saci? Disse meu primo João.

– Eu não! Nem inventa essa brincadeira que eu volto correndo pra casa da tia.

– Para de botar medo na prima! Me defendeu o  primo Antônio.

– Brincadeira, Helena! Disse o João.

Aí eu tive uma ideia: – Que tal a gente ir até o rio?

De primeira, o primo João gostou da ideia, mas o primo Antonio não achou uma boa ideia.

– A gente só fica na beirinha, a gente não entra. Disse eu a ele.

Antonio não queria, mas João conseguiu o convencer. Então fomos nós lá para o rio. Só que a gente tinha que atravessar um bambuzal enorme pra chegar lá. E eu, morrendo de medo de que aparecesse um Saci, mas não podia mostrar pr’os primos que eu tava com medo. Atravessei o bambuzal todo rezando.

O primo Antonio, não tava feliz, não sabia porque ele não queria ir para o rio.

– Que foi, Antonio. Por que você não quer ir pr’o rio?

– É por nada, não, Helena!

– Já sei! O Antonio está com medo de encontrar a sereia do rio!

– Nada disso!

Eu nunca tinha escutado que no rio tinha sereia. A única sereia que eu conhecia era a que vivia no mar que nem conta a história da pequena sereia.

– Sereia do Rio? Perguntei.

– É, Helena! A Iara mãe d’água! Disso Antonio

– Ah! Essa eu já ouvi falar. Não vai dizer que aqui também tem Iara?

– Vou pegar e dar um nó nos cabelos daquela sereia, podem apostar. Disse o primo João.

– Você sabe que a gente não pode mexer com ela! Retrucou o Antonio.

E parece que eu disse uma palavra mágica. Assim que acabei de falar da Iara, comecei a ouvir uma música tão bonita, mas, tão bonita, que não ouvia mais nada que estava na floresta, só aquela música. Nem os cantos dos passarinhos, das folhas que a gente pisava, nem na correnteza do rio. Foi aí que o primo deu enorme grito no meu ouvido que eu quase fiquei surda.

– Que isso, Antonio? Quer me deixar surda?

– Fecha os ouvidos com a mão. Você não pode ouvir essa música.

– Por quê?

– Fecha que eu to mandado!

Não discuti com o Antonio e tratei logo de tapar os meus ouvidos com a mão, ele também tinha feito o mesmo, mas o primo João… Bem…

– Cadê o João, Antonio?

– Ah não! Corre Helena!

E saímos correndo em direção ao rio, assim que deu um clarão, eu vi, era de verdade! Tava lá, sentada na pedra, penteando os cabelos e cantando aquela música.

– Não ouve, Helena! É a sereia do rio!

Nisso, eu olhei por rio e vi o primo João dentro na água, foi entrando, entrando, até a água cobrir ele todo. Logo depois, a sereia pulou da pedra para dentro da água e o primo Antonio pulou atrás. Comecei a ficar com muito medo.

O tempo tava passando e nada dos primos. Comecei a pensar que eles tinham se afogado.

– Ai, meu Deus! E agora? Socorro!! Alguém ajuda!

Ninguém me respondeu. Só os passarinhos que ficaram todos agitados; começou uma cantoria misturada, que deu até dor de cabeça. De repente eu vejo o primo Antonio arrastando o primo João para fora do rio.

– Ajuda, Helena! Vai chamar o pai!

Saí correndo pra casa dos tios para buscar ajuda, tava morrendo de medo que o João tivesse morrido. Cheguei que nem conseguia falar e mesmo sem entender direito, o tio correu lá pra beira do rio.

O que aconteceu? A sereia do rio encantou o primo João com seu canto e tava levando ele para morar com ela no fundo do rio, se não fosse o primo Antônio, aquela aventura que nem aconteceu, ia terminar na maior desgraça.

Essa foi mais uma das minhas férias inesquecíveis no sitio dos primos. Tem horas que eles parecem pior que o Paulinho, viu?

1 Responses to A Sereia do Rio

  1. mariel disse:

    Bem pior, bem pior

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